Ednardo conta sobre o encontro que virou canção com a moça que morreu na guerrilha do Araguaia

O autor cearense surpreendeu a internet ao contar a verdadeira história por trás de sua canção “Ausência” do seu famoso álbum “O Romance do Pavão Mysteriozo”

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O cantor e compositor cearense Ednardo surpreendeu a internet nesta quarta-feira, 31 de março, ao contar pela primeira vez ao grande público a verdadeira história por trás de sua canção “Ausência”, uma das mais bonitas e inspiradas do seu famoso álbum “O Romance do Pavão Mysteriozo”.

De acordo com o autor, a princípio a canção trata de um pequeno romance fugaz que se deu durante uma festa. Na saída, ao dar carona para a moça, ele percebeu que ela estava emocionada demais, de um jeito estranho: “me olhava como se fosse a última vez, deitava a cabeça em meu ombro, me beijava e dava carinhos, de repente vi seus olhos se encherem de lágrimas e foi uma cachoeira, e eu sem entender muito do que estava acontecendo falei – Que é isso, amanhã a gente se ver de novo”.

A moça respondeu: “Amanhã estou viajando e não sei se volto...”.

Ednardo diz que “tempos depois soube que um grupo de estudantes de Fortaleza havia ido para Araguaia e participar da guerrilha, e ela foi uma das pessoas junta a muitos outros. Nunca mais a vi, foi morta junto a outros e outras”.

“Fiz duas músicas pra ela e de forma geral pr’aqueles jovens – “Ausência” e “Araguaia” era o tempo que exigia dos jovens uma definição de ação, e a que eles encontraram foi esta”, encerra o autor.

Veja sua postagem abaixo e ouça a canção “Ausência”:

*CRÔNICA SOBRE AUSÊNCIA*

*Ednardo Sousa*

Passamos quase a noite toda dançando ao som de várias músicas brasileiras. Era início dos anos 70.

Uma foi especial – “Você só dança com ele e diz que é sem compromisso”... cantada por Chico Buarque de autoria de Geraldo Pereira.

Ela se entusiasmava e pedia para repetir a música e a dança.

E colava o corpo e suava, parecia um rito de partida em uma festa simples de estudantes em Fortaleza.

O ingresso de entrada era segundo os organizadores para juntar um pouco de dinheiro para estudantes que sairiam no dia seguinte em “excursão”.

Lá pelas três horas da manhã a festa acabando, ela me pergunta - Você está de carro ?

- Tenho um fusca e ela rindo – Serve... rsrs..

- Me deixa em casa...

- Vamos...

E o fusca chacoalhando nos calçamentos irregulares de Fortaleza, até chegar a um bairro distante.

Pensei, pronto a moça está em casa, mas ela nada de sair do carro e me olhava como se fosse a última vez, deitava a cabeça em meu ombro, me beijava e dava carinhos, de repente vi seus olhos se encherem de lágrimas e foi uma cachoeira, e eu sem entender muito do que estava acontecendo falei – Que é isso, amanhã a gente se ver de novo.

Ela disse – Amanhã estou viajando e não sei se volto...

Achei a situação dramática, não sabia o que estava acontecendo.

Tempos depois soube que um grupo de estudantes de Fortaleza havia ido para Araguaia e participar da guerrilha, e ela foi uma das pessoas junta a muitos outros.

Nunca mais a vi, foi morta junto a outros e outras.

Fiz duas músicas pra ela e de forma geral pr’aqueles jovens – “Ausência” e “Araguaia” era o tempo que exigia dos jovens uma definição de ação, e a que eles encontraram foi esta.

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*AUSÊNCIA*

*Ednardo*

Tu lembras, a rua estreita, estrada tão antiga

E eu mostrava a ti uma cantiga

Uma cantiga antiga do lugar.

Na rua, na paz da lua, o sonho se fazia

E sem querer então eu esquecia

Que já não temos tempo prá sonhar.

Sorrias, e a tua voz a cada instante amiga

A um só tempo em

um abraço

estreito

Fazia vida ao violão num jeito de se fazer amar.

Sorrias, e a tua voz, estranho, estrada, amiga

Perdeu-se ao longe na partida

E não ficou ninguém em seu lugar.

Sorrias, e a tua voz a cada instante amiga

A um só tempo em

um abraço

estreito

Fazia vida ao violão num jeito de se fazer amar.

Sorrias, e a tua voz, estranho, estrada, amiga

Perdeu-se ao longe na partida

E não ficou ninguém em seu lugar.