Graças à Deusa, "deus" perdeu na Bolívia!, por pastor Zé Barbosa Jr.

"Sim, também na Bolívia o discurso religioso foi usado para legitimar um golpe. Mas o deus de Camacho e Añez, que é o mesmo de Malafaia e Bolsonaro, não resistiu à força dos Pajés"

Luis Arce, presidente eleito da Bolívia, e a ditadora Jeanine Añez, que assumiu o poder após o golpe contra Evo Morales em 2019 (Reprodução)
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Viva Bolívia! O golpe de 2019 não encontrou eco na população que foi às urnas neste domingo e devolveu o poder ao MAS, Movimento ao Socialismo, partido de Evo Morales.

É importante lembrar que, no momento do golpe boliviano, dois de seus principais líderes ergueram fortes discursos religiosos em favor da trama: "Não estou indo com as armas, mas com minha fé e esperança, uma Bíblia na mão direita e sua carta de renúncia na esquerda”, disse Luis Fernando Camacho, líder da Ala radical de oposição a Morales. Jeanine Añez, a líder do Senado que assumiu o Governo, disse que "A Bíblia voltou ao palácio".

Esse discurso religioso, além de fundamentalista é preconceituoso, pois tinha como alvo a fé indígena de Morales e de grande parte do povo boliviano. Evo é um líder indígena de origem aimará, que venera a deusa Pachamama (mãe terra). Sim, também na Bolívia o discurso religioso foi usado para legitimar um golpe. Mas o deus de Camacho e Añez, que é o mesmo de Malafaia e Bolsonaro, não resistiu à força dos Pajés.

Esse deus (e a minúscula inicial é proposital e necessária) que apoia golpes, que legitima genocídios, que oprime homoafetivos e mulheres, que exclui indígenas, que escraviza e mata negros, não é nem de longe merecedor de ter o seu nome cravado na história, a não ser para desprezo e desonra. Sim, esse é o mesmo deus que legitimou as cruzadas e as fogueiras, que matou bruxas e continua a enterrar democracias por aí, inclusive aqui no Brasil.

Mas, a força da Deusa mãe terra, essa não deixou barato no país vizinho, e fez valer a força da mulher, do indígena, de quem defende a terra e não permitiu que a “bíblia” (também entre aspas e com minúsculas) mandasse no Palácio. Aliás a Bíblia nunca deveria ser o livro do Palácio, mas a palavra encarnada em becos e vielas, morros e favelas, tribos e palafitas… um livro do povo, para o povo e sem ser manipulado por bandidos como aqui no Brasil.

A vitória do MAS na Bolívia é um sopro de esperança para a América Latina. Um sopro de que por aqui deus nenhum eurocêntrico, macho e genocida encontrará o poder por muito tempo, sem ser derrotado pelo povo, cansado da opressão e que crê em dias melhores e livres, onde a força do Cristo pobre e favelado, junto às muitas manifestações dos Caboclos e Orixás e ainda aliado à ciência e ao forte clamor por justiça, se mostrará potente e invencível.

Sim, graças à Deusa Pachamama, esse deus perverso ruiu na Bolívia, e eu espero que seus pés de barro sejam expostos e destruídos aqui também no Brasil, e que esse deus "acima de todos", mau e perverso morra e o povo encontre os muitos outros Deuses, livres e soltos "entre nós".

Sim! Eles já estão no meio de nós! Que saibamos ver, acreditar e lutar por isso!

Amém!