Lava Jato permitiu a ascensão do Centrão que tanto criticava, por Cleber Lourenço

Quem não queria ser associado ao descalabro bolsonarista, mas também não queria ser alvo das fake news contra a esquerda, pegou o caminho mais fácil.

Foto: Brasil247 (reprodução)
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O resultado do 1° turno desta eleição trouxe algo esperado por muitos: o fortalecimento do Centrão.

A responsabilidade disso é unicamente da Lava Jato. Sim, os imparáveis combatentes da corrupção e que volta e meia criticavam a política, o modo de se fazer política e os políticos do Centrão.

Tudo, é claro, aliado ao fim das coligações, algo que por si só não é negativo. Afinal de contas, a ideia é que partidos da situação ampliassem suas bancadas, dependendo cada vez menos de legendas de aluguel para aprovarem projetos nas casas legislativas.

Infelizmente, no meio do caminho tivemos a avalanche antipolítica que mirou seus canhões em partidos grandes e robustos como o PT e até mesmo o PSDB, seja com operações, seja com discursos e manifestações de todo o tipo.

Já na eleição deste ano, tivemos partidos sem qualquer tipo de consistência ideológica, ou agenda partidária, assumindo diversas vagas na vereança de inúmeras cidades e, alguns casos, também levando prefeituras.

E enquanto instigavam o ódio contra a política, as verdadeiras maçãs podres do sistema político passavam ilesos por toda a devassa.

Desilusão

Vejam só... PSDB, MDB e PT foram alvos de sucessivas ações, enquanto Bolsonaro e sua trupe passaram impunes com suas rachadinhas, que foram estourar depois de eleito.

Com isso, as duas principais forças no momento tiveram sua imagem fragilizada. Restava ali o Centrão e seus partidos que aceitam qualquer um, desde militantes da causa LGBTQI+ até homofóbicos convictos.

Quem não queria ser associado ao descalabro bolsonarista, mas também não queria ser alvo das fake news contra a esquerda, pegou o caminho mais fácil.

Oportunidade de negócios

É claro que os partidos do Centrão perceberam a possibilidade de expansão e abriram suas portas para qualquer um que quisesse ser candidato. Por isso, era possível ver partidos que abrigavam Carlos Bolsonaro e também pessoas que discordam diametralmente de seus posicionamentos.

Além disso, os candidatos escolheram seus partidos buscando ter acesso ao fundo eleitoral. Como os “partidões” mais robustos foram alvos da antipolítica, restavam os centrões da vida, com estrutura e representatividade grandes, mas com, ou sem, nenhuma agenda ou projeto para o país.

A mudança nas regras eleitorais, em geral, não é ruim, mas veio em um péssimo momento. E com isso também temos o retorno do Democratas (antiga ARENA e PFL) ao cenário nacional.

Depois de anos no ostracismo, o partido viu a oportunidade de capitanear as legendas fisiológicas e se beneficiar da baderna instaurada por Jair Bolsonaro e a Lava Jato.

Agora nos resta saber o que os grandes partidos farão para não deixar a política ser tomada por quem não possui projeto, agenda e, em alguns casos, até mesmo compromisso com a sociedade.

A renovação política, que era tão exaltada pela Lava Jato e seus membros, tratou de mudar o eixo político para quem nunca foi relevante de fato.

Moro e Luciano Huck aplaudiram de pé tudo isso. Realmente estavam certos. A política está sendo ressignificada.