O descaso segue matando: Alguém precisar parar Jair Bolsonaro

Na coluna de Henrique Rodrigues: Manobras para não permitir a vacina, deboche escancarado e a frieza peculiar dos psicopatas. Chegamos aos 180 mil mortos e enquanto o mundo se organiza para a imunização, seguimos clamando por alguém que nos ajude.

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Ontem acordei cedo e dei de cara com uma postagem do presidente da República, no Twitter, de arma em punho, comemorando a alíquota zero para a importação de revólveres e pistolas. Precisei de alguns minutos para checar a informação e acreditar que, em meio à maior tragédia sanitária da História do Brasil (e também o evento mais letal, com 180 mil mortes) a maior autoridade política do país tem como prioridade baixar o preço de armamentos.

A morte pelo novo coronavírus no Brasil tem rosto, nome e sobrenome.

No dia anterior, numa reunião tensa, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, com toda a agressividade que não usa com Bolsonaro, já que age como um cãozinho dócil repetindo que "um manda e o outro obedece", tentava intimidar e enrolar governadores furiosos e preocupados. O assunto? A vacina, claro. O mundo está parado há quase um ano por conta da pandemia da Covid-19 e, com as primeiras homologações de imunizantes, é necessário agir com rapidez para garantir a proteção da população, como fazem todos os outros países.

Depois de uma série de desculpas esfarrapadas, num tom de voz bem ao estilo militar, o sabujo bolsonarista afirmou que nenhuma vacina estará autorizada pela Anvisa num prazo menor do que 60 dias. Ou seja, para seguir as ordens do maníaco do palácio, o chefe da Saúde admitiu que está operando politicamente na Agência Nacional de Vigilância Sanitária para retardar e impossibilitar a vacinação de milhões de brasileiros. Tudo, obviamente, para colaborar com as insanidades do presidente que só pensa em se reeleger desde antes de se eleger pela primeira vez.

Algum tempo depois, um vídeo de Bolsonaro debochando da doença, no qual faz uma voz fina e gargalha, viralizou na internet e foi parar nas páginas de veículos de imprensa de todo país.

É neste desespero que vamos contando os dias no inferno do vírus, sem plano de vacinação, com hospitais lotados, falta de leitos de UTI, precariedade no atendimento dos serviços públicos, gravíssima crise financeira, miséria e mortes, enquanto o calhorda-geral da República organiza exposição de trajes oficiais e posa de pistola na mão.

Estamos nas mãos dessas duas figuras. Do homem com sede de morte e sanha genocida e do general apresentado como um ás da logística, que não tem plano de vacinação e sequer comprou seringas.

Agora, percebendo que todos os setores da sociedade o apontarão o dedo, Jair Bolsonaro tenta um acordo com a Pfizer, no apagar das luzes, que mesmo se for assinado, só renderia vacinas ao Brasil a partir do meio do ano que vem. Ou seja, não há mais vacinas no mercado para pronta entrega, exceto a da Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, que o fanfarrão mórbido se recusa a aceitar para fazer picuinha política com João Doria, seu inimigo (por quem não nutro qualquer simpatia, mas que vem tentando se mexer no meio dessa mixórdia).

Nosso cotidiano tem sido assim. Abrir os jornais e ver as falcatruas dos ministros, batendo boca como bêbados de botequim, os filhos do presidente fazendo lobby para descolar um cascalho numa orgia da coisa pública com o interesse privado e Jair Bolsonaro sacaneando propositalmente o povo para agradar sua base eleitoral psiquiátrica, que acha que vai ser controlada por um nanochip embutido na "vacina chinesa".

Imaginem a preocupação de Pequim em monitorar a mente dos idiotas que acreditam em Terra Plana e na simpatia à base de vermífugo com cloroquina.

Seguimos assim. Manobras para não permitir a vacina, deboche escancarado e a frieza peculiar dos psicopatas. Chegamos aos 180 mil mortos e enquanto o mundo se organiza para a imunização, seguimos clamando por alguém nos ajude.

Os próximos dias e semanas dirão se o inferno vai se instalar de vez no Brasil e se ficaremos largados e apartados do mundo civilizado por conta e risco de um parasita que brinca de ser deus e nos condena a essa tortura, ou se alguma luz virá do fim do túnel obscurantista para nos aliviar dessa chaga funesta que habita o coração do Planalto Central.