O que está por detrás da proposta de fim do PT

Pode ser uma saída por cima das elites. Um novo contrato político para reduzir o poder de Bolsonaro e matar a oposição ao mesmo tempo

Bolsonaro e o comício onde propôs fuzilar "a petralhada" (Foto: Reprodução)Créditos: Reprodução/Youtube
Escrito en OPINIÃO el

Jabuti não sobe em árvore. Quando você vier a ver ele numa, saiba que alguém o colocou lá.

O processo da procuradoria eleitoral propondo a ilegalidade do PT é um jabuti.

Jabuti, como já dito, nem sobe em árvore e nem nasce na árvore. Quem colocou o jabuti lá?

Há duas hipóteses.

A primeira é ter sido ideia do time carluxo-olavista. Do Bolsonarismo raiz. Que sente necessidade de polarizar com o PT pra ver se rola um bloco do lado de lá pra se animar a continuar com o mito na presidência de fato do país.

Mas pode ser algo pior, como registrou o meu amigo Rodrigo Vianna.

Pode ser uma saída por cima das elites. Um novo contrato político para reduzir o poder de Bolsonaro e matar a oposição ao mesmo tempo.

Globo, Maia e seus liderados no Congresso, Moro, Mandetta, Mourão, e parte significativa das Forças Armadas, lideradas pelo general Braga Neto, junto, claro, com o capital financeiro, a Fiesp e o escambau.

Esse grupão pode estar armando um Bolsonaro do tipo rainha da Inglaterra. Um Bolsonaro pra inglês ver, que vai ficar falando sozinho.

E ao mesmo tempo esse grupão iria para cima da oposição com sede de sangue.

Oposição, amigos, no Brasil (digo país inteiro) é PT.

Ficar com uma picareta na cabeça do petismo, falando em ilegalidade não é algo inútil. Pelo contrário. É algo que pode definir muitas eleições.

Sufocar o partido, aplicando-lhe multas estratosféricas e limitando-o economicamente, mesmo que isso não o leve a cassação, é um jeito de impedir que a oposição exista.

Esse pedido de cassação do PT pela procuradoria eleitoral pode ter esse sentido.

Mesmo que não venha a ilegalizá-lo, interditá-lo. O que é tão grave quanto a ilegalidade formal. Principalmente se junto com isso vier este tal acordão das elites.

PT e geral do campo progressista precisam ficar muito mais atentos do que já estão. Precisam estar espertos. E precisam se unir. Juntar forças pra sobreviver.

Bolsonaro é um dos adversários. Está longe de ser o único. E talvez já não seja o mais preocupante. De qualquer jeito ainda pode reagir.

E, cá entre nós, Bolsonaro tentando impedir um acordão por cima é melhor do que ele aceitando tudo de cabeça baixa. Ao menos explicitaria o racha, o que está por baixo da fantasia colorida de fim da polarização.

Esse discurso de fim da polarização é o maior engodo autoritário. Não ajuda em nada o processo democrático, que é a convivência dos contrários. Que tem por principio aceitar os polos.

É discurso para nos impor o silêncio dos cemitérios. E entregar o país. Muito cuidado com ele.