“This is Us”, uma obra-prima que vale cada cena de cada episódio

A série, que estreou em 2016, chega ao seu final no início do ano que vem como uma das obras mais intensas e bem realizadas do formato

A série This is Us. Foto: Divulgação
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Antes de encarar uma série que tem seis temporadas – a última estreia em janeiro – com 18 capítulos de quase uma hora cada, o mínimo que se pode fazer é procurar informações, críticas, saber mesmo se vale à pena. E assim fiz com “This is Us”, criação de Dan Fogelman sobre a quase prosaica família Pearson.

Uma busca breve nas redes aponta para elogios e mais elogios, alguns derramados, frases como “a melhor coisa que vi na vida”, “a série mais linda do mundo” entre outras. Com um pé atrás, comecei a ver. E desde o início até agora, em meados da quinta temporada, corroborei com todos eles e mais um pouco.

Desde a chegada do casal Rebecca e Jack Pearson (Mandy Moore e Milo Ventimiglia) à maternidade para ter os trigêmeos, o espectador não para de se debulhar em lágrimas sinceras, de se surpreender com cada acontecimento, cada perda e cada ganho da vida extremamente comum de uma família típica americana, que se esforça para enfrentar seus preconceitos e diferenças.

O piloto

Sem spoilers, o que se passa logo no primeiro episódio define a vida de todos dai em diante. Um dos trigêmeos morre no parto. No mesmo dia, um bebê negro é deixado na porta de um quartel do Corpo de Bombeiros. Um bombeiro o leva para o mesmo hospital e o casal Pearson o adota. Em outras palavras, o coloca no lugar do filho que morreu no parto.

A série é montada com saltos no tempo. Os gêmeos, chamados pelos pais de “big three”, aparecem durante a infância, adolescência e idade adulta sempre em vários momentos de suas vidas, em cortes rápidos e alternados. O efeito, que em um primeiro momento chega a confundir o espectador, se acomoda rapidamente.

Kate Pearson, vivida por Chrissy Metz, sempre lutou contra o peso; Kevin (Justin Hartley) é o gêmeo bonitão, que vira astro de cinema. Ele e o irmão Randall, magistralmente vivido por Sterling K. Brown – o filho adotivo – vivem uma relação de disputa. Randall é metódico e extremamente inteligente, enquanto Kevin é atleta, bem relacionado, líder na escola e, de maneira muitas vezes nem um pouco sutil, desmerece o irmão.

Mágica

O que faz “This is Us” dar certo não é algo evidente. Não há fórmula que possa ser repetida. Comédias dramáticas e sitcoms familiares são coisas pra lá de gastas. Há, no entanto, nesta série, algo que envolve o espectador desde o começo feito mágica. A química entre os atores, o roteiro extremamente bem engendrado e as situações humanas, demasiado humanas, deixam quem está assistindo envolvido a cada diálogo, como se estivesse vendo pedaços de sua própria existência.

Não há maniqueísmos. Todos são bons, mas podem ser, em um momento ou outro, extremamente maus. Os episódios são construídos a partir de situações comuns, que se transformam em dramas, com as emoções esticadas até o limite e que, muitas vezes, ficam inconclusas e guardadas para um outro momento, assim como o são na vida.

Joni Mitchel

Outro detalhe muito significativo é a relação da matriarca, Rebecca Pearson – cantora frustrada – com a música e com a filha, que também sonha com a mesma carreira, mas sucumbe, assim como a mãe, diante da vida e suas dificuldades. Alguns capítulos são inspirados em canções como “So long, Marianne”, de Leonard Cohen ou um outro, ainda mais significativo, quando ela é levada pelo filho Kevin para conhecer a casa em que moraram Joni Mitchel e o compositor Graham Nash, em Los Angeles, na década de 60. Lá, ensina Rebecca no jardim da casa, Nash compôs o clássico “Our House”.

No final das contas, como toda grande obra, “This is Us” consegue, a partir de coisas simples e comuns a todos, se transformar em uma grande história, contada com prazer, muito talento e, sobretudo, emoção de sobra.

Vale cada cena de cada episódio.