A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, foi às redes sociais neste sábado (24) para fazer campanha contra o abandono paterno. Em publicação no Instagram, a ministra comparou a ausência do pai na criação dos filhos como um tipo de aborto, algo que não foi bem recebido entre seus seguidores bolsonaristas.
"Abandono paterno, também é uma forma de aborto! Abandono afetivo, também é uma forma de aborto. Pagar pensão e não estar presente na vida da criança, também é uma forma de aborto. Se você se enquadra neste perfil, não importa se você é de esquerda, de direita ou de centro, se é homem ou mulher: abandono afetivo é crime", escreveu a ministra na rede social.
Em resposta, diversos perfis disseram que a comparação com o aborto é "infeliz", já que entendem a interrupção da gravidez como uma espécie de assassinato. Parte dos internautas acusaram Damares de se alinhar a pautas feministas.
"A partir do momento que você iguala o abandono ao assassinato, você reforça a tese feminista de que o aborto é uma decisão da mulher tal qual o abandono é uma decisão do homem. Ambos são crimes, mas não devemos jamais confundir alhos com bugalhos. Assassinato é assassinato. Abandono é abandono", comentou um internauta na publicação da ministra.
"Ministra, isso ficou muito mal fraseado. Equivaler abandono, que é sim grave, com a maior monstruosidade do mundo, o aborto, é diminuir a gravidade deste", disse outro.
A professora da faculdade de Direito da Universidade de Brasília, Debora Diniz, comentou sobre o caso no Twitter. Para ela, Damares de fato se aproximou de pautas feministas ao criticar o abandono paternal. Diniz afirma, no entanto, que a analogia com aborto não é apropriada. "Se a analogia é estapafúrdia, a ofensa tocou fundo. Criticou o patriarcado", escreveu na rede social.
Em entrevista ao UOL, publicada em 2018, a professora argumenta que "há outras palavras mais fortes para mostrar o silêncio dos homens e essa incoerência argumentativa, como desamparo e abandono parental".
Segundo levantamento da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC), 80.904 das crianças registradas nos cartórios brasileiros somente neste ano têm apenas o nome das mães nas certidões de nascimento, de um total de 1.280.514 nascimentos.