SAÚDE

Caso Paulinha Abelha: Chá emagrecedor pode ser perigoso e levar à morte

Segundo especialistas, cápsulas com diversas "ervas para perder peso" podem sobrecarregar fígado e rins; Anvisa proibiu 140 fórmulas

Anvisa divulgou lista com 140 “medicamentos emagrecedores” suspensos no BrasilCréditos: Pixabay
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Na última quarta-feira (9), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista com 140 “medicamentos emagrecedores” que estão suspensos no Brasil. A adoção destes métodos sem validação científica, que prometem emagrecimento de forma rápida e sem hábitos saudáveis, deve ser encarada com cautela, segundo especialistas.

Em fevereiro, chamou a atenção o caso da enfermeira Mara Abreu, que morreu após uma hepatite fulminante provocada pelo uso do "chá emagrecedor 50 ervas". Recentemente, o assunto voltou à tona com a morte da cantora Paulinha Abelha, do grupo Calcinha Preta.

Uma das suspeitas para o quadro de inflamação generalizada que se desenvolveu é a alta quantidade de medicamentos (17 substâncias foram encontradas), inclusive para emagrecimento, que a artista ingeria. 

O viúvo da cantora, Clevinho Santos, confirmou em entrevista ao Fantástico que ela usava medicamentos e chás para emagrecer quando queria “dar uma secada” antes dos shows. “Quase toda semana ela estava tomando (medicamentos diuréticos), quando tinha show que ela queria ‘dar uma secada’, também esses chás de emagrecer”, revelou.

Quais são os perigos dos chás emagrecedores

De acordo com a literatura médica, fazer combinações de diversas ervas pode ser prejudicial ao corpo, já que algumas delas apresentam um alto grau de hepatotoxicidade (danos ao fígado) e só podem ser consumidas em dosagens baixas.

"Qualquer associação de muitos medicamentos ou substâncias ao mesmo tempo pode potencializar efeitos colaterais e/ou sobrecarregar os órgãos responsáveis por seu metabolismo e eliminação, tais como fígado e rins", afirma Paulo Benício, clínico geral do Hospital Adventista Silvestre.

Segundo o especialista, qualquer medicamento, seja ele convencional ou fitoterápico, na forma de cápsula ou chá, precisa de estudos sobre segurança, eficácia, efeitos adversos, doses terapêuticas e doses tóxicas, além de contraindicações e grupos de risco, por exemplo.

No entanto, é quase unânime que pessoas "portadoras de doença renal crônica e cirrose não devem usar plantas medicinais sem prescrição médica, assim como gestantes, lactantes e crianças, sem a devida indicação médica".

A professora e médica nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), alerta que, no caso da enfermeira Mara Abreu, a fórmula do "chá emagrecedor 50 ervas" já era proibida no país e, portanto, vendida na clandestinidade. Por isso, poderia conter quaisquer substâncias, até mesmo tóxicas, visto que não foi submetida à regulamentação da Anvisa, ou seja, não há garantia quanto à segurança do produto.

Chá x cápsulas

Há muitas diferenças entre beber o chá e consumi-lo em cápsulas. De acordo com Marcella Garcez, em primeiro lugar, as cápsulas nem poderiam ser chamadas de chás.

"Só devemos chamar de chás as infusões de plantas frescas ou desidratadas, isoladas ou associadas. Se forem próprias para consumo e não oferecerem riscos de intoxicação, geralmente são muito seguras para consumo e muitas delas oferecem funcionalidades benéficas à saúde. Essas plantas são encontradas em produtos regulamentados, dentro de saquinhos de chás ou a granel para serem infundidas em água quente", explica.

Já os produtos vendidos em cápsulas, mesmo compostos apenas de plantas medicinais, não são chás, e sim extratos fitoterápicos com princípios ativos concentrados com efeitos medicamentosos, inclusive efeitos colaterais e contraindicações. 

"Muitos deles precisam de prescrição médica exclusiva e, para serem indicados e consumidos, devem obrigatoriamente ser registrados na Anvisa e no Ministério da Saúde. São encontrados nas farmácias ou laboratórios de manipulação", complementa a especialista.

Por isso, é fundamental não consumir nenhum produto sem registro na Anvisa, seja na forma de alimentos, suplementos ou remédios. Além disso, é necessário prescrição, orientação ou aval médico.