AVANÇOS CIENTÍFICOS

Aterosclerose: Cientistas europeus supõem que haverá tratamentos sem uso de drogas

Placas formadas por acúmulo de gordura, tecido fibroso e células imunes mantêm estreita ligação com o sistema nervoso periférico, o que abriria uma porta para combater a doença sem medidas medicamentosas

Créditos: Universidad Nacional Autónoma de México/Reprodução
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Cientistas europeus, após uma longa pesquisa sobre os mecanismos de ação da aterosclerose, uma doença caracterizada pela formação de placas no interior das artérias, que ao se desprenderem podem provocar infartos e AVC's, descobriram que a enfermidade mantém relação íntima com o sistema nervoso periférico. A descoberta pode abrir a possibilidade de um futuro tratamento que não seja medicamentoso.

O estudo começou analisando uma possível interação entre doenças ateroscleróticas e o cérebro, um mecanismo que até agora era desconhecido, mas que ficou comprovado. A análise mostrou que há uma relação direta e profunda entre três tecidos que agem conjuntamente: o cardiovascular, o nervoso e o imunológico.

As placas ateroscleróticas são compostas por gordura, tecido fibroso e células imunes. Os resultados obtidos pelos cientistas desvendaram justamente a relação existente entre as partes envolvidas na progressão da doença. O sistema nervoso periférico tem papel fundamental no acionamento do mecanismo que faz com que a aterosclerose se agrave.

Essas placas, quando se soltam do interior das artérias, costumam entrar na circulação e produzir ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, o que resulta numa das maiores causas de morte em toda a humanidade, com 3,9 milhões de mortes apenas nos países da União Europeia todos os anos.

A partir da informação que atribui função essencial do sistema nervoso no desencadear da aterosclerose, a esperança dos médicos é de que num futuro próximo o tratamento da doença seja feito sem o uso de medicamentos, necessários até então. Tratar fatores nervosos poderia fazer com que as placas ateroscleróticas não evoluam para o desprendimento que ocasiona eventos fatais ou graves.

"Quando há uma placa aterosclerótica também se formam agregados de células imunes no tecido conjuntivo externo do sangue do vaso chamado adventícia. Curiosamente, esses agregados têm semelhanças com um linfonodo que, em condições saudáveis, regula nossas respostas imunes. O tecido conjuntivo que envolve as artérias é rico em fibras nervosas que, como nosso trabalho mostrou agora, fazem uma conexão direta entre a placa e o cérebro. Na verdade, esse tecido adventício é usado pelo sistema nervoso como o principal canal para atingir todos os órgãos do corpo”, explicou Daniela Carnevale, do Departamento de Angiocardioneurologia e Medicina Translacional do governo italiano e professora titular da Universidade Sapienza, de Roma. Ela é a principal líder do estudo, que envolveu também a Universidade Ludwig-Maximilians, da Alemanha.

“Pudemos ver que os sinais da placa, uma vez que chegam ao cérebro, influenciam o sistema nervoso autônomo através do nervo vago (única porção do sistema nervoso que controla a maioria dos nossos órgãos e nervos viscerais) até o baço. Aqui, células imunológicas específicas são ativadas e entram na circulação sanguínea, levando à progressão das próprias placas”, disse ainda a cientista, que completou explanando sobre o passo a passo para estancar o agravamento da aterosclerose.

“Fizemos mais experimentos interrompendo as conexões nervosas com o baço. Desta forma, os impulsos das células imunes presentes neste órgão são cortados. O resultado é que as placas nas artérias não apenas desaceleraram seu crescimento, mas se estabilizaram, tornando a doença menos grave”, contou Carnevale.

Outro autor que participou da descoberta, Giuseppe Lembo, chefe do Departamento de Angiocardioneurologia e Medicina Translacional e também docente na Universidade Sapienza, da capital italiana, mostrou-se empolgado com a possibilidade de tratar uma enfermidade tão grave e comum sem a necessidade de remédios num futuro breve.

“É uma visão absolutamente nova que abre caminho para novas terapias antes impensáveis como estratégias. Uma hipótese é atuar, por meio de dispositivos bioeletrônicos específicos e muitos outros meios potenciais, para afetar os nervos que chegam ao baço, em particular no ramo do nervo vago ligado ao gânglio celíaco. Ou seja, combater a aterosclerose por outros meios e não necessariamente farmacológicos”, comemorou Lembo.