Vídeo do ministro da Educação ampliou atos de ontem contra o governo

Havia (no singular, ministro) muitas dúvidas sobre se o dia 30 seria maior do que o 26. Mas o vídeo era escroto demais para as pessoas ficarem em casa

Abraham Weintraub - Foto: Reprodução
Escrito en POLÍTICA el
Mal começava o dia e os inúmeros grupos de WhatsApp dos quais participo já ferviam de indignação com o vídeo no qual o ministro da Educação, Abraham Weintraub fazia uma paródia do clássico "Dançando na Chuva", com um guarda chuva preto, para acusar a mídia de fazer chover fake news em seu ministério. Num discurso meio sem pé e nem cabeça, Weintraub que tem um currículo de graduação eivado de notas próximas de zero, cometia um erro de concordância básico, flexionava para a terceira pessoa do plural o verbo haver usado no sentido de existir. A despeito disso, o vídeo viralizou rapidamente na bolha bolsonarista e seus robôs humanos passaram a compartilhá-lo. Hoje (31) às 8h da manhã só no Twitter o alcance estimado do vídeo era de 1,4 milhão de perfis e quase 9 mil compartilhamentos. A tropa do capitão aplaudia de pé a iniciativa de Weintraub. Considerava a lacrada do ano. O vídeo tinha mexido com as duas bolhas políticas. A que foi às ruas no domingo. E a que estava pensando em ir ontem (30). Havia (no singular, ministro) muitas dúvidas sobre se o dia 30 seria maior do que o 26. Porque nas redes a divulgação dos atos não era tão grande e muitas escolas e universidades não pareciam ter o mesmo grau de mobilização de duas semanas atrás. Mas o vídeo era escroto demais para as pessoas ficarem em casa. Evidente que não foi apenas o dançando na chuva de fake news que mobilizou. Mas ele, que foi produzido (isso que assusta) para desviar a atenção e produzir discurso para a militância bolsonarista, certamente foi um dos elementos extras nos resultados surpreendentes e animadores da mobilização. Muita gente decidiu ir aos atos após assistir esse vídeo. Depoimentos com histórias neste sentido pipocavam no grupos de zap. Mensagens de estudantes falando coisas como "no grupo de zap da minha sala tava todo mundo desanimado, mas este vídeo botou fogo na turma" se repetiam. A despeito de não ter dados científicos, a experiência no trabalho com redes digitais e observação das conversas nesses ambientes me dão tranquilidade para afirmar que o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Weintraub foi o garoto propaganda dos atos de ontem. Sem ele e seu vídeo patético eles seriam menores. E isso tende a se repetir em novas ocasiões. Entre a comunidade da educação, Weintraub é hoje mais odiado do que o sinal da volta do intervalo do recreio. E isso vai custar muito caro a ele e ao governo Bolsonaro. Por isso, em nome dos brasileiros que valorizam a educação eu lhe agradeço, ministro. Seu vídeo não passou despercebido por quem pensa e conjuga corretamente o verbo haver. A gente entendeu o recado. Só com muita rua e luta vocês serão impedidos de impor o projeto pré iluminista que evocam. E ontem ficou claro que a imbecilidade não reina sozinha neste país.