“Autoridades estão liberando a população a apoiar ações arbitrárias do Estado”, diz sociólogo

Marcos César Alvarez, vice-coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, critica a espetacularização da violência na área da segurança pública: “A solução dos problemas passa por planejamento e execução complexos e não por saídas mágicas”

Foto: Reprodução
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A violência, estimulada pelo atual governo federal, é um dos problemas mais graves dentre os muitos enfrentados pelo país em tempo de Jair Bolsonaro. O Rio de Janeiro, especificamente, desde que está sendo comandado pelo ex-fuzileiro naval Wilson Witzel, observa um avanço cada vez maior de ações policiais truculentas e que, invariavelmente, acabam em assassinatos de pobres e negros, muitos deles adolescentes. Na avaliação de Marcos César Alvarez, professor do departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e vice-coordenador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, infelizmente, desde a última campanha para a eleição à presidência da República, posturas populistas se generalizaram. Se você curte o jornalismo da Fórum clique aqui. Em breve, você terá novidades que vão te colocar numa rede em que ninguém solta a mão de ninguém
“Isso é extremamente negativo pois, ao defender formas diversas de execução sumária, as autoridades estão liberando a população a apoiar ações arbitrárias do Estado ou mesmo fazer justiça com as próprias mãos. Esse tipo de apologia da violência é totalmente incompatível com o regime democrático e deve ser claramente rejeitada, tanto pelos indivíduos, quanto pelas instituições. Na atual conjuntura brasileira, no entanto, a marcha da insensatez política só avança”, reflete Alvarez.
O caso recente de Willian Augusto da Silva, que sequestrou um ônibus, na Ponte Rio-Niterói e manteve reféns, usando uma arma de brinquedo, é emblemático. Ele acabou assassinado por disparos de snipers. Uma das imagens mais marcantes do fato foi Witzel descendo de um helicóptero no local e comemorando o resultado da operação policial como se estivesse em uma partida de futebol. [caption id="attachment_185175" align="alignnone" width="500"] Foto: Reprodução/RecordNews[/caption] Inapropriado “O comportamento do governador, comemorando o desfecho da operação, foi claramente inapropriado. Pelo menos posteriormente ele adotou outro tom, ao conversar com os familiares do sequestrador, mas sem dúvida parte do estrago já estava feito”, destaca o sociólogo. Witzel é um grande incentivador do uso de snipers, prática utilizada inúmeras vezes em ações policiais nas favelas, desde que ele assumiu o governo. “Embora eu não seja especialista no estudo de operações como essa, a defesa do uso de snipers parece não ter nenhum sentido, mesmo em termos técnicos”, analisa o sociólogo. [caption id="attachment_185176" align="alignnone" width="500"] Foto: Reprodução/Instagram[/caption] Guerra declarada? Ele acredita que em situações como a do sequestro do ônibus, esses profissionais podem entrar em ação, apenas depois de a situação estar claramente identificada, os espaços isolados, as negociações em curso e a avaliação dos riscos que pode levar a autoridade responsável a decidir pelo disparo. “No entanto, como o sniper poderia agir em outros contextos? Teríamos uma situação de guerra declarada, na qual qualquer indivíduo portando objetos suspeitos, em determinadas áreas da cidade, poderia ser executado sem maiores considerações legais? Não faz o menor sentido. Grupos de atiradores de elite são hoje empregados pelas policias de todo o mundo, mas não dessa forma. Novamente, trata-se de espetacularização da violência na área da segurança pública, na qual a solução dos problemas passa por planejamento e execução complexos e não por saídas mágicas”, afirma Alvarez. [caption id="attachment_185177" align="alignnone" width="279"] O sociólogo Marcos César Alvarez[/caption]