REENCONTRO

Idoso resgatado em operação contra trabalho escravo reencontra família após 39 anos

João do Brejo, como era conhecido, viveu e trabalhou sem salário e registro em fazenda café; Família o reconheceu na televisão, enquanto assistia à reportagem sobre resgate

João do Brejo, ao centro, reencontra os filhos.Idoso resgatado em operação contra trabalho escravo reencontra família após 39 anosCréditos: Arquivo pessoal
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João Ribeiro é o nome de batismo de um senhor conhecido como João do Brejo que foi resgatado no final de janeiro da fazenda de café Boa Vista, localizada em Bueno Brandão no interior em Minas Gerais. Lá ele viveu por 39 anos trabalhando na lavoura sem salário e sem registro, ou seja, em condições análogas à escravidão. Meses após o resgate, João do Brejo reencontrou sua família.

“Tudo começou porque ele foi atendido no final do ano passado. Foi levado ao hospital com suspeita de pneumonia. Lá, verificaram que não tinha nenhum documento”, contou a auditora-fiscal do Trabalho, Elvira Tomazin, ao Fantástico, da TV Globo, que publicou a história do resgate de João do Brejo em 5 de março.

De acordo com a auditora, médicos e enfermeiros desconfiaram da situação do idoso e acionaram a Assistência Social, que apurou sua situação para em seguida fazer uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho. Em operação dos auditores-fiscais, o idoso foi encontrado capinando terra descalço – o que é arriscado sobretudo em roças com incidência de animais peçonhentos.

Na mesma operação foi constatado que ele vivia em uma pequena habitação sem as menores condições de salubridade. Sem geladeira, televisão ou qualquer outro eletrodoméstico. Sua cama era de espuma e apresentava aspecto encardido. “Fico inconformada como alguém consegue submeter um ser humano a essas condições”, comentou Tomazin.

João havia chegado na fazenda em 1984. Ele estaria perdido e à procura de trabalho quando chegou. Durante o tempo em que esteve no local, foi perdendo os documentos e não possuía qualquer registro público. Quando resgatado, foi diagnosticado com um transtorno neuropsiquiátrico que havia subtraído suas memórias da vida anterior à fazenda de café.

O reencontro

Ana Zilia Francisca de Oliveira assistia à reportagem que contava a história do resgate quando reconheceu o irmão. Imediatamente gritou, chamando outros parentes, e afirmando que o homem que aparecia na televisão se parecia com o irmão desaparecido há quase 4 décadas.

“Na hora que o repórter deu para ele os documentos, falou o nome dele inteiro, do pai e da minha mãe, não tinha mais dúvida”, revelou Zilia ao Fantástico, em reportagem que foi ar neste domingo (19).

Em seguida dois filhos de João que vivem no interior de São Paulo foram ao lar de idosos para onde o pai tinha sido levado. Ao reencontrá-los, João conseguiu recuperar algumas memórias do passado. Também foi realizado um teste de DNA para comprovar o reencontro.

“Desde o começo de 1983 nós procurávamos ele por um bom tempo, mas nunca o encontramos”, conta Natal, um dos filhos, que tinha 12 anos quando o pai sumiu. Ele também conta que o pai começava a apresentar alguns problemas mentais antes de deixar o lar.

João do Brejo não sabe dizer como foi parar na fazenda onde foi submetido à condição de escravidão por tanto tempo. Mas o que importa para a família é o futuro, e o idoso já tem lugar reservado: um quarto que já foi arrumado por Natal no sítio em que mora em Manduri, no interior de São Paulo.