O economista Pedro Rossi, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fez uma sequência de publicações em suas redes sociais nesta segunda-feira (23) comentando sobre as medidas econômicas necessárias para enfrentar o novo coronavírus.
"Primeiro é preciso largar o dogmatismo fiscal e rasgar a fantasia neoliberal. Temos que esquecer aquele papo de que não tem dinheiro, de que o Estado está falido. Por que isso é mito/mentira", disse Rossi no início da thread.
O economista chama a PEC Emergencial apresentada por Paulo Guedes de "estúpida" e acha que a crise causada pela pandemia de Covid-19 vai "mudar paradigmas em termos de política fiscal".
Segundo Rossi, não vai ser o aumento da dívida pública que vai promover um "caos social", mas a ausência de investimento público.
Grupo de Trabalho da UFRJ
Economistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também destacaram a necessidade de revisão da política fiscal e a realização de investimentos em meio à crise.
Um plano formulado pelos professores Maurício Metri e Eduardo Crespo, do Grupo de Trabalho da UFRJ sobre o Novo Coronavírus, defende "a necessiade urgente de “transferências unilaterais de renda, emergenciais e temporárias, a trabalhadores desempregados, autônomos e em afastamento sem vencimento”.
Além disso, 75 economistas da universidade assinaram uma carta sugerindo oito medidas a serem adotadas pelo Governo Federal e pelo Congresso Nacional, entre elas a necessidade da eliminação da fila do Bolsa Família e a ampliação do valor pago aos beneficiários.
Confira a thread publicada pelo economista:
Como financiar o combate ao coronavirus?
Primeiro é preciso largar o dogmatismo fiscal e rasgar a fantasia neoliberal.
Temos que esquecer aquele papo de que não tem dinheiro, de que o Estado está falido. Por que isso é mito/mentira.
Tem dinheiro.
Não há restrições financeiras para o gasto público, além das regras instituídas.
O governo gasta, depois o Banco Central avalia a base monetária/meta de juros e recolhe $ em troca de dívida.
O governo não precisa de dinheiro prévio, nem de taxar pra depois gastar.
Não faz sentido achar que tem que tirar de alguém para poder gastar. Não precisa tirar do policial e do professor, não precisa cortar 25% do salário de funcionários públicos. Isso só vai atrapalhar a recuperação econômica no pós-crise sanitária. A PEC Emergencial é estúpida.
Quem ganha e quem perde?
Qualquer gasto público é redistributivo. Se o Estado garantir renda para o mais pobres, $ para a saúde e para que o sistema econômico não colapse, uns ganham mais do que outros. Mas, ao evitar um caos social, a sociedade como um todo sai ganhando.
O que vai acontecer se a dívida publica subir 10% do PIB, um caos social?
Não, isso vai acontecer se o governo não gastar agora.
O aumento de dívida NÃO precisa ser revertido em seguida.
Alias, o padrão do comportamento das dívidas soberanas mostram: dívida pública não se paga, se rola.
A tentativa de reduzir dívida em seguida da crise sanitária por meio de um forte ajuste fiscal seria trágica.
Além de rasgar a fantasia neoliberal, devemos largar os mitos cultivados pela a esquerda.
A dívida pública não é um problema moral. Não há limite mágico para a dívida publica. Dar calote na dívida em moeda nacional não faz nenhum sentido.
NÃO FAZ SENTIDO VENDER AS RESERVAS CAMBIAIS !
Não precisa vender dólar para financiar gastos em reais, isso mantem a dívida líquida constante e aumenta a vulnerabilidade externa.
Se for usar, que financie importação de medicamentos ou empresas endividadas em dólar.
Quem acha que serão dois meses de aumento de gastos e depois voltamos para austeridade fiscal, tá enganado. O custo social disso seria enorme.
Dívida publica se estabiliza com crescimento. Enquanto houver desemprego e capacidade ociosa, a política fiscal pode ajudar.
Essa crise vai mudar paradigmas em termos de política fiscal.
A realidade é tao chocante que as pessoas abandonam os dogmas. As ideias monetaristas foram por terra depois da crise de 2008/09. Agora é a vez definitiva dos dogmas fiscais.
OBS: Para o pessoal que aponta a Conta Única do Tesouro como nossa solução (tem R$1,2 tri -16% do PIB), isso é questão jurídica/contábil.
Retirando as regras fiscais do caminho usa-se a conta unica. Retirando a proibição do BC financiar o TN, não há limites para o gasto público.