TRAGÉDIA NOS CÉUS

Boeing chinês: O que especialistas dizem sobre o “mergulho da morte”

Queda que matou todos os 132 ocupantes da aeronave intriga o mundo. Forma como o avião desceu de bico é algo totalmente incomum e, para muitos, sem explicação

Boeing 737-800 da China Eastern Airlines "mergulha" de bico (YouTube/Reprodução)).
Escrito en GLOBAL el

A queda de um Boeing 737-800 da China Eastern Airlines nesta segunda-feira (21), na região de Guangxi, na China, que matou todos os 132 ocupantes da aeronave, deixou especialistas em aviação confusos e incrédulos em todo o mundo. Imagens de uma câmera de segurança de uma mineradora, localizada na zona remota onde o avião caiu, registraram um “mergulho” praticamente em 90 graus do aparelho, que acertou o solo de bico e em alta velocidade.

Dados sobre o voo MU5735 registrados no site Flightdata24, que monitora todos os voos comerciais no planeta, mostram que o Boeing “despencou” 8.870 metros em menos de três minutos, e as imagens que flagraram a queda revelam que o avião fez isso com o "nariz" para baixo, um tipo de acontecimento raríssimo e, para alguns especialistas, inexplicável.

O chinês especialista em aviação Li Xiaojin, numa entrevista à agência internacional Reuters, afirmou que é muito complicado dizer como aquele avião caiu daquela forma. "É muito difícil entender o que aconteceu, porque normalmente o avião está em piloto automático na fase de cruzeiro", comentou, fazendo referência ao momento em que uma aeronave está em sua altitude máxima, voando no piloto automático, quando normalmente transcorre a parte mais calma de um voo.

O próprio CEO da Boeing, Dave Calhoun, numa mensagem por correio eletrônico aos empregados da empresa, disse que era muito difícil falar sobre hipóteses num caso tão incomum e estranho. "Esse tipo de perfil de descida é muito estranho. Pouquíssimas falhas causariam uma descida desse tipo", opinou o executivo da fabricante do avião acidentado.

Correspondente do site sobre aviação Aerotime, o piloto aposentado Michel Treskin, mesmo impressionado com a queda, atentou para um pequeno detalhe: durante o “mergulho” de 8.870 metros, a aeronave, já próxima do solo, conseguiu dar uma breve revertida, a 2.400 metros, subindo um pouco para, na sequência, voltar a descer de bico.

“Essa recuperação mostra que houve algum controle sobre a aeronave. Parece que alguém tentou tirar a aeronave do mergulho", opinou Treskin.

Outros voos que caíram “de bico”

O voo 447 da Air France, que ia do Rio de Janeiro para Paris, e caiu no meio do Oceano Atlântico em 1° de junho de 2009, teria “mergulhado” também, segundo os resultados das perícias, mas a descida teria sido mais prolongada e com um ângulo não tão acentuado como o do MU5735, da China Eastern. No caso do avião que partiu do Brasil há quase 13 anos, o congelamento de alguns instrumentos, sobretudo aquele responsável pela medição da velocidade, provocaram uma pane nos dados mostrados no painel para os pilotos, e a aeronave teria se fragmentado no ar, o que aparentemente não ocorreu no acidente atual.

Já um outro caso, ocorrido em 1997 com um Boeing 737-300 da Silk Airlines, da Indonésia, que mergulhou de nariz num pântano, matando todos os 104 ocupantes, é muito mais parecido com o caso da China Eastern ocorrido nesta segunda-feira (21). Naquele trágico episódio, a NTSB (National Transportation Safety Board), órgão independente dos EUA que investiga acidentes aéreos pelo mundo, considerou que os dados, indícios, perícias e informações das caixas-pretas levavam a crer numa atitude deliberada do piloto. Ou seja, num procedimento suicida, o comandante do Boeing teria propositalmente apontado o avião para baixo, de bico, e descido até se chocar violentamente contra o solo.