VENEZUELA

Exxon Mobil: a pivô do conflito entre Venezuela e Guiana tem hálito de enxofre

Tortura, estupro e desastres ambientais: a ficha corrida da Exxon é um escândalo por si só

Derramamento de petróleo em Green Island, no Canadá, vítima do vazamento do ExxonValdez.Créditos: ARLIS REFERENCE
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A principal empresa por trás do campo de petróleo de Starbroek, na Guiana, é a ExxonMobil. A operadora da Exxon, Mobil e Esso é a quarta maior companhia de petróleo do mundo e a maior dos EUA. 

Desde 2008, a empresa tem operações na Guiana e tem descoberto ano após ano uma quantidade gigantesca de petróleo bruto de qualidade e em quantidade.

Segundo estudos conduzidos pelo governo do país em parceria com a Exxon, estamos falando de 4 bilhões de barris de petróleo até 2025, cerca de um terço das reservas comprovadas de petróleo do Brasil. 

O conflito que pode estourar entre Venezuela e Guiana não é contra o estado guianense. É claro e evidente: trata-se da Venezuela contra a Exxon.

A promessa guianesa é que o petróleo vai respingar em toda a população do país, que se tornará um petroestado com o maior crescimento econômico do mundo nos próximos anos.

A Guiana tentará replicar o modelo de crescimento de Trinidad e Tobago, que conseguiu crescer, se industrializar e manter uma estabilidade política com os royalties do petróleo que a Shell começou a tirar de sua costa nos anos 1913.

A escolhida para a missão foi a Exxon, que tal qual a Shell, não carrega uma boa reputação no que se refere ao seu histórico de direitos humanos e meio ambiente.

ExxonMobil, uma reputação infame

ExxonMobil

Diversos crimes contra o meio ambiente recaem nas costas da ExxonMobil, como o derramamento de petróleo do petroleiro Exxon Valdez, que lançou 42 mil toneladas de petróleo na costa do Alasca, em um episódio conhecido como "maré negra". 

O derramamento do Exxon Valdez foi o segundo maior da história dos Estados Unidos, causando danos significativos à vida selvagem e ao meio ambiente, e a empresa pagou bilhões em custos de limpeza e restauração de habitat. 

Além do desastre de 1989, a ExxonMobil também esteve envolvida em outros vazamentos de petróleo, inclusive em países de terceiro mundo.

De acordo com o Violation Tracker, a empresa já foi multada mais de 466 vezes por violações contra o meio ambiente nos EUA e acumula mais de US$ 2 bilhões (ou R$ 10 bi) em multas pelos danos ambientais.

Além disso, a empresa também já foi condenada a uma multa de US$ 1 bilhão por cartelar o preço da gasolina em 35 estados dos EUA em 1991.

Violações aos direitos humanos

A Exxon Mobil é acusada de violações dos direitos humanos no campo de gás de Aceh, Indonésia, no final da década de 1990 e início dos anos 2000. 

A empresa contratou unidades militares indonésias para proteger seu campo de gás em Arun, e alega-se que essas unidades cometeram abusos, incluindo tortura, assassinato, estupro e genocídio contra os povos que habitavam a região.

Em 2001, onze moradores indonésios afetados por essa violência entraram com um processo contra a Exxon Mobil nos EUA, alegando que a empresa era responsável pelos abusos cometidos pelas forças de segurança que ela havia contratado. 

Após mais de 20 anos de litígio, em julho de 2022, um tribunal distrital dos EUA negou as tentativas da ExxonMobil de encerrar o caso, permitindo que o processo fosse a julgamento, embora nenhuma data de julgamento tenha sido marcada.

Mas não acaba por aí: a empresa também possui acusações de violações aos direitos humanos no Equador, Peru e Colômbia, em especial por violência contra povos indígenas que eram contra a extração de recursos naturais em seus espaços de vivência.

Os povos indígenas do Alaska também já moveram ações contra a corporação pelos seus crimes contra o meio ambiente, notoriamente a etnia Kivalina.

A Exxon foi uma das grandes beneficiárias da Guerra do Iraque, em especial por avançar com suas produções de petróleo em Rumaila e em Qurna após a queda do governo de Saddam.

Mais de 1 milhão de civis morreram em decorrência da Guerra do Iraque e a Exxon foi uma das grandes beneficiadas pelas operações militares dos EUA no Oriente Médio.

Os problemas na Guiana

Na Guiana, a ExxonMobil já tem um histórico de problemas. Primeiramente, o governo guianense já perdeu bilhões em isenções de imposto para beneficiar a Exxon em seus investimentos.

A empresa também é acusada de violar licenças ambientais na produção do campo de Payara, também na Guiana, e tem sido criticada pelos povos indígenas Arawak do país pelos riscos que a extração de petróleo podem causar ao país.

O governo Maduro ordenou a saída da Exxon dos campos de petróleo da Guiana, mas isso não deve acontecer tão cedo. Acobertada pelo comando Sul dos EUA e pelo governo dos EUA, a empresa deve tentar extrair ao máximo o petróleo da região nos próximos meses.

De acordo com o jornal guianense Kaieteur, o Relatório do Fundo de Recursos Naturais (NRF) da Guiana mostra que, em 2022, o bloco Stabroek gerou US$ 9,8 bilhões de receita, no entanto, a Exxon deduziu US$ 7,4 bilhões, deixando a Guiana com apenas US$ 1,4 bilhão incluindo lucros e royalties durante o período. Ou seja: quem lucra de verdade com a extração de petróleo de Essequibo são os norte-americanos e seus acionistas, não os guianeses.