CHINA EM FOCO | CRISE EM TAIWAN

Crise climática: China continuará a contribuir para mitigar os efeitos da emergência do clima

Especialistas ouvidos pela imprensa chinesa garantem que suspensão de diálogos sobre mudança climática por Pequim não vai mudar disposição da China em contribuir com a questão

Créditos: China Daily - Técnicos verificam uma instalação de energia eólica em Shuozhou, província de Shanxi, norte da China
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A China anunciou na sexta-feira (5) uma série de contramedidas em resposta à visita provocativa da presidenta da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha de Taiwan. Entre as decisões anunciadas por Pequim está a suspensão das negociações bilaterais sobre mudanças climáticas.

Dois jornais chineses, o Global Times (GT) e o China Daily (CD), ouviram especialista que esmiuçaram os possíveis efeitos dessa medida chinesa em relação à atuação do país asiático no enfrentamento à crise climática. 

O pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Lü Xiang, concedeu uma entrevista ao GT na qual avaliou de que forma essa medida terá impacto no enfrentamento à crise climática no mundo. 

Lü comentou que em resposta à decisão da China de suspender as negociações bilaterais sobre a crise climática, a Casa Branca não ofereceu uma única explicação. Em vez disso, tem feito todo tipo de acusações contra movimentos legítimos da China.

O especialista apontou que enviado especial dos EUA para as mudanças climáticas, John Kerry, afirmou que a suspensão da cooperação "não pune os EUA - pune o mundo". Alguns outros funcionários da Casa Branca, incluindo o secretário de Estado Anthony Blinken e o coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, fizeram comentários semelhantes.

Sob tais circunstâncias, ponderou Lü, a confiança política mútua estabelecida entre os dois países nas últimas décadas desmoronou quase totalmente. Pode-se dizer que Pequim e Washington têm agora a relação política mais tensa desde o estabelecimento das relações diplomáticas, com as duas grandes potências à beira do conflito a qualquer momento.

Ele observou que se esperava que as mudanças climáticas fossem uma das questões sobre as quais a China e os EUA mais poderiam trabalhar juntos. Mas por mais importante que seja essa cooperação, ela ainda faz parte dos laços políticos bilaterais. 

"No contexto da tensão atual, que foi causada sozinha por Washington, não faz muito sentido para nenhum dos lados continuar as negociações sobre mudanças climáticas. Seria melhor interromper as discussões por algum tempo para que os EUA possam se 'esfriar' e ter uma introspecção adequada", observou o especialista.

Ele comentou ainda que embora abordar as mudanças climáticas tenha sido uma agenda crítica para o governo Biden, os EUA nunca levaram a sério sua cooperação com a China nessa área. Como é de conhecimento de todos, as inovações tecnológicas e o desenvolvimento de produtos relevantes são vitais para resolver o problema. 

Todavia, afirma Lü, os EUA vêm fortalecendo a contenção do desenvolvimento de tecnologia de energia limpa chinesa e das vendas de produtos, criando intencionalmente vários obstáculos. Isso inclui impor tarifas punitivas aos produtos solares da China e aumentar a “ameaça” que o desenvolvimento de energia eólica da China representa para os interesses estratégicos dos EUA.

Em suma, Washington nunca cooperou com Pequim no aspecto tecnológico - uma das áreas mais importantes para lidar com as mudanças climáticas. Portanto, as queixas e preocupações dos funcionários dos EUA sobre a decisão da China são, na visão de Lü, "pura bobagem".

Na opinião do especialista, ao suspender a cooperação, a China espera reconsiderar se os dois lados devem continuar a cooperação bilateral com base na confirmação da direção política geral entre os dois.

Desde que assumiu o cargo, o governo Biden usou os "três Cs" para definir as relações com Pequim - competição, confronto e cooperação. Mas os EUA decidiram colocar os pés apenas no caminho do confronto, ignorando inteiramente as outras duas abordagens.

Como os EUA se concentram no confronto com a China, os dois países agora devem se concentrar principalmente em como sair do conflito político. Afinal, o confronto não beneficia ninguém. A decisão da China também é uma oportunidade para os EUA pensarem por que ambos os lados devem fingir cooperar se apenas querem conflito.

Aparentemente, o que os funcionários da Casa Branca disseram é uma tentativa de difamar a China. Mas a suspensão das negociações sobre mudanças climáticas China-EUA certamente não é uma punição para o mundo, porque a China continuará sua cooperação com outras partes da comunidade global. Continuará se esforçando para cumprir seu compromisso de atingir o pico de emissões de carbono e alcançar a neutralidade de carbono, além de desenvolver energia renovável.

Em contraste, basta olhar para o que os EUA estão fazendo. Washington está ficando para trás em suas metas climáticas, enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, deu passos muito menores do que prometeu durante sua campanha eleitoral presidencial em 2020. É totalmente irracional que funcionários da Casa Branca ataquem a China para lidar com as mudanças climáticas. Suas observações recentes apenas provam que essas pessoas são extremamente hipócritas e desconectadas da realidade.

O CD conversou com o diretor executivo do BRI Green Development Institute,  Zhang Jianyu, que também repreendeu as críticas do Kerry, de que a suspensão da China das negociações climáticas sino-americanas "punge o mundo". O especialista afirmou que a declaração é "enganosa" e "não faz sentido".

"Apoiando firmemente seu compromisso climático, a China ofereceu apoio consistente aos países em desenvolvimento", disse Zhang.

O especialista comentou ainda que os EUA realmente minaram o interesse central da China na questão de Taiwan. Portanto, é compreensível que a China adotasse as contramedidas. Ele afirma, no entanto, que espera que as questões climáticas impulsionem a retomada da cooperação China-EUA.

Para Zhang, a longo prazo, a China e os Estados Unidos certamente retomarão a cooperação. Ele acredita que as questões climáticas terão um papel fundamental para ajudar a trazer a cooperação de volta aos trilhos.