Venezuela: Assessor de Guaidó confirma assinatura de contrato com mercenários para sequestrar Maduro

Norte-americanos presos no país prestam depoimento e contam detalhes do plano que custaria US$ 200 milhões, a serem pagos no final da Operação Gedéon, “com a venda de barris de petróleo quando Guaidó tomasse o poder”

Juan Guaidó e Juan José Rendon assinaram contrato com a empresa de segurança privada Silvercorp USA (Foto: Divulgação)
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Por Fania Rodrigues, de Caracas | Venezuela O marqueteiro venezuelano Juan José Rendon, que assessora o líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, afirmou que assinou um contrato com o ex-militar norte-americano, Jordan Goudreau, de 42 anos, veterano das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos e proprietário da empresa de segurança privada Silvercorp USA. Goudreau assumiu publicamente a liderança da ação armada chamada de Operação Gedeón, desmontada no último domingo e segunda-feira, pelo governo venezuelano. O presidente Nicolás Maduro classificou a ação como uma invasão de mercenários com o objetivo de atacar a Venezuela e dar um golpe de Estado. Cerca de 60 homens armados, entre ex-militares venezuelanos e norte-americanos, entraram no país via marítima, utilizando lanchas rápidas e embarcações turísticas. Segundo dados oficiais, 29 homens foram capturados, oito abatidos em confronto e 23 estão foragidos. A existência desse contrato foi revelada por Jordan Goudreau, no último domingo (3), mas em um primeiro momento Guaidó e seus aliados negaram ter assinado o acordo. Mas, entre as assinaturas, estão também a de Juan Guaidó e do deputado venezuelano Sergio Vergara. [caption id="attachment_220091" align="aligncenter" width="618"] Contrato de US$ 200 milhões com a assinatura de Guaidó[/caption] No entanto, agora, Juan José Rendon diz se tratar de um contrato “exploratório”, onde contratou a empresa de Goudreau para avaliar as possibilidades de estabelecer ações armadas contra líderes do chavismo e membros do Estado venezuelano. O valor do contrato foi estabelecido em U$ 200 milhões (R$ 1,1 milhão), que seria pago depois da execução da operação, “com a venda de barris de petróleo quando Guaidó tomasse o poder”, revelou fontes vinculas à oposição venezuelana ao jornal The Washington Post, dos EUA. O assessor de Guaidó, entretanto, negou que o objetivo era matar líderes chavistas: “O contrato foi uma exploração para ver a possibilidade de capturar e entregar à justiça dos Estados Unidos membros do regime com ordem de prisão”. Rendon afirma ainda que nunca aprovou a execução do contrato, que o anulou em outubro do ano passado. Depois disso Goudreau teria agido sozinho. Mas, admite ter feito um pagamento inicial no valor de U$ 50 mil (cerca de R$ 275 mil) à Silvercorp. Juan Guaidó não se pronunciou oficialmente sobre a tentativa de golpe e seu assessor tornou-se o porta-voz de sua equipe nessa crise. Juan José Rendon, residente em Miami, é conhecido no meio político latino-americano por assessorar e fazer campanhas eleitorais para políticos como Juan Manuel Santos, da Colômbia, e do Partido Acción Nacional (PAN), do México, na última eleição presidencial, vencida pelo presidente Andres Manuel Lopez Obrador, do partido Morena. Na página web de sua empresa afirma ter liderado 40 campanhas presidenciais e perdido apenas seis. [caption id="attachment_220092" align="aligncenter" width="750"] Rendon, Jordan e Guaidó: o plano fracassou[/caption] Norte-americanos velam planos Entre os 29 mercenários presos nos últimos cinco dias, estão dos cidadãos dos Estados Unidos. Entre eles o sargento Airan Berry, que serviu no exército dos Estados Unidos como sargento de engenharia das Forças Especiais, também conhecidas como Boinas Verdes, entre junho de 1996 e outubro de 2013. Foi enviado três vezes ao Iraque entre 2003 e 2007. E o sargento Luke Denman, que também esteve nas Forças Especiais do exército, como sargento de comunicações, entre outubro de 2006 e dezembro 2011. Em seguida serviu na reserva até setembro 2014. Participou de uma missão no Iraque entre março e setembro de 2010. Airan e Luke são funcionários da empresa da Silvercorp, de acordo seus próprios depoimentos. Eles afirmam ainda que a operação na Venezuela estava estipulada e regida pelo contrato assinado pela Silvercorp com o líder da oposição venezuelana. Segundo o ex-sargento Airan Berry, em depoimento divulgado nessa quinta-feira, o objetivo era sequestrar o aeroporto militar La Carlota, localizado em pleno casco urbano de Caracas, no bairro de Miranda, diferente do aeroporto internacional Simón Bolívar, o principal do país, que fica na zona metropolitana da capital venezuelana. Enquanto um segundo grupo de mercenários teria a tarefa de capturar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e transportá-lo até o aeroporto. Viriam aviões militares dos Estados Unidos para transportar o presidente venezuelano que seria preso nos EUA. https://youtu.be/hYUd7frdbHA Luke já havia narrado parte desse plano em vídeo divulgado pelas autoridades na quarta-feira (6). Porém, existe uma contradição. Enquanto Luke diz que seu papel era garantir o “transporte seguro de Maduro até o avião”, Airan afirma que eles matariam Maduro. Após a neutralização do chefe de Estado e outros líderes do chavismo, Juan Guaidó ocuparia oficialmente o cargo de presidente da Venezuela. Por outro lado, os dois depoimentos coincidem que os alvos principais eram: O Palácio Miraflores, sede do governo; instalações do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) e da Direcção-Geral de Contra-Inteligência Militar (DGCIM) e a Base Aérea La Carlota. O governo dos Estados Unidos negou qualquer participação nos atos violentos na Venezuela. O chefe do departamento de Estado, Mike Pompeo, disse que “o governo dos EUA não teve participação direta nos fatos, caso contrário o resultado teria sido diferente”. Direitos humanos dos presos Apesar de dizer que não tem vínculos com os ex-militares venezuelanos e nem com os ex-militares dos EUA presos esta semana, a aposição venezuelana reivindicou que se respeitassem os direitos dos acusados. Porém, não há denúncias, nem indícios de violação. Por outro lado o irmão de um dos mercenários, Mark Denman, disse em entrevista à CNN, que recebeu informações de que os norte-americanos estão tendo seus direitos respeitados. "Essa não é uma situação ideal, mas estou feliz de ver que eles estão sento tratando humanamente e que, aparentemente, os padrões estabelecidos pelos organismos internacionais estão sendo cumpridos", disse Mark Denman, irmão de Luke. Mark é advogado e mora na cidade Austin, estado do Texas, nos EUA. “É sempre angustiante saber de algo assim, mas estamos tentando ver com bons olhos. Alguns homens não sobreviveram à primeira noite. Então, ele tem sorte de estar vivo", acrescentou. Maduro informou em entrevista coletiva na quarta-feira (6) que os norte-americanos serão julgados na Venezuela e que terão todos os seus direitos garantidos pela Justiça. Mas, o chefe do Departamento de Estado dos EUA disse que fará tudo o que estiver ao seu alcance para levar os dois cidadãos de volta ao seu país. Na quarta-feira (6), o presidente Donald Trump nomeou um novo embaixador dos Estados Unidos para a Venezuela. Apesar dos dois países estarem com relações diplomáticas cortadas, desde janeiro de 2019, foi criada uma estrutura diplomática que funciona em Bogotá, Colômbia. O novo embaixador é o diplomata James Story, que era o representante de negócios quando a embaixada foi fechada, depois que os EUA reconheceram a Guaidó como presidente interino. Leia também reportagem especial explicando tudo o que aconteceu na tentativa de invasão mercenária na Venezuela.