Bolsonaro volta a atribuir fogo no Pantanal e Amazônia a caboclo e indígena

Salles, do Meio Ambiente, diz que pecuarista do Mato Grosso está sendo perseguido e, por isso, acumulou mais material que propagou o fogo

Ricardo Salles e Jair Bolsonaro durante live (Foto Reprodução/Facebook)
Escrito en BRASIL el

Em sua live semanal transmitida nesta quinta-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atribuir a indígenas e caboclos parte do fogo no Pantanal e na Amazônia.

Ele discutia as queimadas nos dois biomas com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Em parte, não em todo, mas uma parte, tem uma cultura regional, é o índio que toca fogo no roçado, é o caboclo também, o pequeno produtor que toca fogo no roçado”, afirmou o capitão reformado.

A fala repete o argumento usado por ele no discurso feito na Organização das Nações Unidas (ONU) e que foi amplamente criticada por entidades ambientais. Estudos inclusive refutam a tese.

Pesquisa publicada em agosto deste ano na revista Science, feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou que 52% das queimadas de 2019 ocorreram em propriedades médias e grandes, onde também já foi registrado 67% do desmatamento de agosto do ano passado a julho deste ano.

Em nota divulgada nesta quinta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que “populações indígenas e ribeirinhas” contribuem muito para a manutenção e preservação de Amazônia, Cerrado e Pantanal. E escreveu que há evidências que apontam para a expansão da atividade agropecuária como a causa mais provável dos incêndios nesses biomas.

Pecuária ajuda, diz Salles

Mas não é o que pensa o ministro Ricardo Salles. Na live, ele disse que o pecuarista é um “colaborador” contra a propagação do fogo. “A pecuária ajuda a diminuir a matéria orgânica, o  gado come o pasto e não deixa acumular”, disse.

“E vem havendo naquela região, no Mato Grosso, uma perseguição muito grande aos pecuaristas”, afirmou, sem detalhar a que se referia. O governo de Mato Grosso informou que cinco perícias realizadas pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT) apontaram ação humana como causa da origem das queimadas na região, em cinco propriedades rurais.

“Resultado: diminui o gado, aumenta a quantidade de capim e de mato; quando pega fogo, é um volume gigantesco”, argumentou.

Salles vem defendendo que a propagação do incêndio no Pantanal, levando o bioma a bater recorde histórico de focos de incêndio, se deveu à falta de queima preventiva de restos orgânicos que se acumulam no bioma, como galhos, folhas etc. A teoria serve para minimizar a influência dos incêndios feitos em propriedades rurais. Ruralistas são apoiadores do governo.

Mas essa tese é refutada por especialistas na área. “Qualquer cientista sério acha essa hipótese risível”, disse à Fórum Thiago Junqueira Izzo, professor e coordenador da pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).