Globo decide buscar roteirista e diretor negros para série sobre Marielle Franco

Globo e Antifa Filmes, de Antônia Pelegrino, receberam críticas por terem escalado como diretor José Padilha, "homem que deu e dá ferramentas simbólicas para a construção do fascismo e genocídio da juventude negra no país", segundo o movimento negro

Marielle, Antonia Pellegrino e José Padilha (Montagem)
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Após críticas e acusações de racismo, a Globo e a Antifa Filmes decidiram escalar diretores e roteiristas negros para a série que está sendo produzida sobre a vida de Marielle Franco, um dos maiores investimentos de sua plataforma de streaming Globoplay para 2021.

O site Alma Preta divulgou uma nota de repúdio no sábado (7) após o anúncio da equipe que fará a série. "É revoltante. No entanto, numa sociedade capitalista, não surpreende que a história de uma mulher negra seja contada a partir do ponto de vista de três pessoas brancas", diz o texto.

As críticas aumentaram principalmente após o anúncio de José Padilha como diretor, "homem que deu e dá ferramentas simbólicas para a construção do fascismo e genocídio da juventude negra no país", segundo a nota do movimento negro.

Diretor de Tropa de Elite, Padilha também dirigiu a série O Mecanismo – que contou a história da Lava Jato de um ponto de vista parcial, de direita.

Para justificar a escolha de Padilha, Antonia Pellegrino, autora de série sobre a vereadora assassinada Marielle Franco, lamentou não ter “um Spike Lee” no Brasil. Pelo Twitter, ela ainda reforçou a tese, o que gerou indignação nas redes.

“Existe um racismo estrutural no Brasil q impediu, até hj, a formação de um spike lee brasileiro. Não é supremacia branca. É denúncia”, escreveu.

A produtora cultural e ativista Andreza Delgado rebateu a declaração. “Na real você ainda consegue ser mais racista, chamando por um Spikee Lee brasileiro e desqualifica toda uma gama de profissionais negros, como se existisse um jeito só de fazer cinemae áudio visual. Nós negros somos diversos e de aliada vc não tem é nada”, tuitou.

Mudanças
Segundo o jornalista Daniel Castro, do portal Uol, espera-se que pelo menos um cineasta negro, como Jeferson De (Brother, 2011), dirija alguns episódios. A liderança do projeto, no entanto, continuará nas mãos de José Padilha, que é sócio do projeto e na empresa Antifa Filmes.

Segundo o jornalista, por enquanto, a equipe só tem Padilha, Antonia e George Moura, mas vai crescer com novos roteiristas e diretores. A série terá duas temporadas de oito episódios cada.