OPINIÃO

Partidos de esquerda deveriam ter maioria de candidatos mulheres, negros e jovens - Por Emir Sader

A política brasileira, assim como os cargos de poder no país, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário são, em geral, coisas de homens brancos adultos.

Homenagem aos Quarenta Anos do Movimento Negro Unificado na Câmara.Créditos: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
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Os grandes ausentes da política brasileira são as mulheres, os negros e os jovens. A política brasileira, assim como os cargos de poder no país, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário são, em geral, coisas de homens brancos adultos.

Se diz, até mesmo, que quando uma mulher chega a um cargo de poder, esse cargo já perdeu pelo menos parte do poder. As mulheres demoraram para chegar a cargos importantes no sistema bancário. Mas até hoje, os homens ocupam a maior parte dos cargos de decisão nesse sistema.

As mulheres já são parte importante das bancadas parlamentares. Mas os presidentes das casas do Congresso costumam ser homens. Entre presidentes de partidos já há várias mulheres, inclusive do partido mais forte da esquerda, o PT.

No Judiciário, as mulheres estão presentes, mas como minoria. Uma mulher chegou a ser eleita presidenta do Brasil, mas foi vítima de uma brutal campanha de desqualificação, que mal conseguia esconder seu caráter machista.

Os negros têm eleito representantes importantes nos parlamentos, inclusive destacadas líderes negras, uma parte das quais trans.

Nas eleições municipais há dois anos conseguiram eleger, em Curitiba, dois grandes líderes do movimento negro, pelo PT, como vereadores. Mas, a maioria dos parlamentares, em todos os níveis, continua a ser de não negros, mesmo se os negros são maioria na população brasileira.

Os jovens têm desenvolvido mobilizações importantes, com organizações, especialmente nas periferias das grandes cidades, em particular movimentos de jovens negros. As mulheres negras ainda têm participação minoritária nesses movimentos.

Uma política de democratização do Brasil requer, antes de tudo, que a maioria dos candidatos dos partidos de esquerda sejam mulheres, negros e jovens. Só assim teremos um amplo processo de renovação da política brasileira.

Não há ainda uma nova geração de candidatos nas próximas eleições que possam representar essa renovação. Há muitos candidatos mulheres, negros e jovens que lutam com muita dificuldade para conseguir recursos e espaços para suas campanhas.

Mesmo nos partidos, ainda com a política de cotas, o protagonismo maior ainda é de homens e adultos. As mulheres, os negros e os jovens conseguem ter movimentos sociais importantes, mas eles não fornecem, em geral, grande quantidade de líderes, reais ou potenciais, para as listas de candidatos dos partidos de esquerda.

Na direção dos partidos, nas bancadas no Congresso nacional, Câmaras estaduais e municipais essa situação não mudou significativamente ainda.

Há uma governadora mulher eleita em todo o Brasil e uma vice-governadora, que agora assumiu o cargo de governadora, em um total de 27 estados. A maioria esmagadora de prefeitos são homens. Houve avanços significativos, mas insuficientes ainda. 

A que se deve essa não correspondência com a composição da população, em que a maioria são negros e mulheres, sem que isso se traduza nas representações nas instâncias de poder na sociedade?

Sem dúvida, há discriminação da maioria da sociedade em relação a esses setores.

As mulheres passariam a votar em mulheres, mas esse não é o fenômeno predominante, senão elas teriam maioria nos parlamentos. Da mesma forma, se os negros votassem em negros, eles seriam maioria. Os jovens tendem mais a votar em jovens, mas não necessariamente nos que tenham consciência social.

A campanha para que os jovens de menos de 18 aos tirem o titulo eleitoral para votar ainda este ano tem tido um relativo sucesso. Mas, são 7 milhões os que poderiam votar e ainda não tinham tirado o título.

O desinteresse político na sociedade se reflete de maneira mais direta nos jovens, em que uma parte deles se soma à ideia de “político não presta”, “político é tudo igual”, “política é coisa ruim”. 

No fundo essa batalha só será ganha com o resgate da política, o que só é possível na democracia e com governos que atendam os interesses da massa da população, mais particularmente dos interesses das mulheres, dos negros e dos jovens.

Nos meios de comunicação as mulheres já ocupam lugares importantes. Mas os negros e os jovens, bem menos.