DOM PHILLIPS E BRUNO PEREIRA

Morte de Dom Phillips e Bruno Pereira: "Bolsonaro tem responsabilidade política", diz historiador

O historiador Lucas Pedretti destacou que a promoção da violência pelo projeto bolsonarista se dá pelo incentivo de grupos criminosos e pelo desmonte de órgãos de controle

Jair Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto.Créditos: Foto: Isac Nóbrega/PR
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Em meio às discussões sobre o grau de responsabilidade política que o governo Jair Bolsonaro (PL) tem sobre as mortes do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, destaca-se o desmonte promovido pela atual gestão em matéria de fiscalização e controle na região da Amazônia e os constantes ataques do presidente a ativistas de direitos humanos e do meio ambiente.

Bolsonaro chegou a dizer que Dom Phillips era "malvisto" na região enquanto as buscar ainda eram realizadas, demonstrando seu desprezo com o jornalista e com o indigenista. Do exterior essa responsabilidade parece mais evidente. Em entrevista ao jornalista Jamil Chade, do portal Uol, a eurodeputada Anna Cavazzini, vice-presidenta da delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, responsabilizou o presidente pelas mortes: "Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos".

Para o historiador Lucas Pedretti, pesquisador do Núcleo de Memória e Direitos Humanos do Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE/UFRJ), não se pode negar que há responsabilidade política de Bolsonaro. "Independente do que vem a ser comprovado sobre os mandantes do duplo assassinato - e a gente precisa cobrar até o final para que sejam revelados os mandantes -, o fato é que a gente não pode ignorar a responsabilidade política do governo Bolsonaro", apontou, em entrevista à Fórum.

"Responsabilidade não só sobre essas mortes, mas sobre tudo que vem acontecendo tanto na Amazônia, em relação aos povos indígenas, quanto nas cidades, em relação ao extermínio da juventude negra, à violência nas favelas. Essas são duas faces da mesma moeda, que é a lógica brutal da violência que organiza a ideologia do Bolsonaro e do seu governo", completou.

Segundo o historiador, a lógica de violência está diretamente relacionada "ao incentivo que o governo faz a um conjunto de práticas criminosas". No caso da Amazônia, do garimpo, da invasão ilegal de terras indígenas, enquanto nas cidades, no incentivo às milícias. Mas não fica apenas no incentivo. Para Pedretti, há uma dimensão dessa lógica violenta que atinge diretamente a estrutura do estado para possibilitar a ação de grupos criminosos.

"Essa dimensão ilegal do projeto bolsonarista tem como contrapartida uma dimensão que atua por dentro da estrutura do Estado, aparentemente de forma legal. O desmonte da Funai, por exemplo, que tem no na exoneração do Bruno uma das suas expressões, a exoneração de servidores da Polícia Federal e de outros órgãos de controle que tentavam de alguma maneira de impedir o avanço sobre as terras indígenas. No caso das cidades, essa dimensão se apresenta a partir da autorização que as polícias têm para matar, do enfraquecimento de órgãos que tentam combater milícias, grupo de extermínio... O projeto bolsonarista sempre tem essas duas dimensões."

"Você só entende o avanço das milícias no Rio de Janeiro, por exemplo, se você entende como as polícias são incentivados a matar, da mesma forma que você só entende o avanço do garimpo legal, da grilagem ilegal, do ataque as terras indígenas, na Amazônia, se você entende o desmonte da Funai, do Ibama e de setores da Polícia Federal", finalizou.