Gabriela Hardt, substituta de Moro, abre sigilo de ações contra Tacla Duran após tratativa de delação com a PGR

A juiza, que substituiu Moro na Lava Jato, aceitou pedido do MPF. Tacla Duran quer delatar à PGR suposto esquema de propinas na força-tarefa que seria conduzido por Carloz Zucolotto, padrinho de casamento e amigo íntimo do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro

Gabriela Hardt e Sergio Moro (Montagem/Reprodução Youtube/Agência Brasil)
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Substituta de Sergio Moro, quando o ex-juiz foi convidado a assumir o Ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro, ainda em novembro de 2018, a juíza Gabriela Hardt atendeu a um pedido do Ministério Público Federal e abriu sigilo sobre documentos que constam em ações contra o advogado Rodrigo Tacla Duran, apontado pela Lava Jato como operador financeiro da Odebrecht.

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Na decisão, a magistrada cita que "atualmente fora veiculado na imprensa que Rodrigo Tacla Duran estaria negociando acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República", referindo-se à negociação do advogado para delatar um suposto esquema de propinas na Lava Jato que seria comandado por Carlos Zucolotto, padrinho de casamento e amigo íntimo de Sérgio Moro.

Sob o comando de Augusto Aras, a PGR decidiu ouvir Tacla Duran depois da saída de Moro do governo Jair Bolsonaro. O ex-advogado da Odebrecht, que está refugiado na Espanha, já disse que negociou propina ao também advogado Carlos Zucolotto, que foi sócio de Rosangela Moro em um escritório jurídico, para obter vantagens em seu acordo de delação premiada com a Lava-Jato em 2016.

Gabriela Hardt diz que decidiu atender ao pedido do MPF, pois Tacla Duran "é apontado pelas autoridades de persecução penal, com base em robustas provas coletadas ao longo das investigações da Operação Lava-Jato, como responsável por graves crimes de lavagem de dinheiro, que superam US$ 300 milhões, e de organização criminosa”.

No pedido, o MPF alega que Tacla Duran apresentou informações falsas ‘reiterada e sistematicamente’ na tentativa de induzir autoridades responsáveis pelo seu caso ao erro na ‘busca por impunidade’. O órgão afirma que o advogado forjou documentos e atuou para induzir ao erro autoridades do Brasil, Espanha, Interpol e Singapura.

A decisão da Procuradoria-Geral da República pelo arquivamento de denúncias enviadas pelos deputados petistas Wadih Damous, Paulo Pimenta e Carlos Alberto Rolim Zarattini, na qual narram supostas ilegalidades praticadas por procuradores em negociações de acordos de delações premiadas, foi incluída na lista.

Amigo da família
Zucolotto é padrinho de casamento e amigo íntimo de Sérgio e Rosângela Moro. A última aparição pública do advogado com o casal aconteceu em novembro passado, quando Moro e a esposa receberam amigos em Curitiba e publicaram fotos nas redes sociais.

Zucolotto é sócio de Rosangela na HZM2 Cursos e Palestras, empresa aberta na esteira da fama conquistada por Moro na atuação da Lava Jato.

Zucolotto apareceu pela primeira vez na mídia em 2017, depois que a Folha revelou que Tacla Duran teria acusado o padrinho de casamento do casal Moro de cobrar propina na Lava Jato.

Em audiência por videoconferência na CPMI da JBS, em maio de 2018, Tacla Durán disse que durante as investigações da Lava Jato procurou Zucolotto, que na época era sócio da esposa de Sergio Moro, que teria pedido US$ 5 milhões para reduzir o valor da indenização a ser paga por ocasião do fechamento de um acordo de delação premiada.

O acordo previa a redução considerável da multa que Duran, que teria de desembolsar a partir de recursos no exterior, a exemplo de outros réus da Lava Jato. E Zucolotto ficaria com cerca de 5 milhões de dólares, pagos “por fora”, por intermediar a negociação.