Impeachment de Bolsonaro ganha impulso neste início de ano e deve ser tema central da esquerda

Depois de um ano marcado pela pandemia e a negligência do governo para lidar com a crise sanitária, tese do impeachment volta a ser discutida entre as principais lideranças da oposição

Foto: PSB Rio
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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem em sua gaveta, aguardando análise, 52 pedidos de impeachment protocolados por diferentes partidos e entidades contra o presidente Jair Bolsonaro. Um recorde.

Ao longo do ano de 2020, marcado pela pandemia do coronavírus e pela negligência do governo com relação à crise sanitária, o que fez com que o país se tornasse um dos campões dos casos e mortes no mundo, a tese do impeachment chegou a ganhar força em alguns momentos, mas o tema era colocado na geladeira na medida em que o Congresso Nacional tentava priorizar o combate à pandemia, em detrimento da inação do ex-capitão. Maia, por inúmeras vezes, alegou que não queria causar "crise institucional" entre os Poderes.

Diante de todos os reveses já acumulados pela pandemia, a eminente crise econômica com previsões de se intensificar com o fim do auxilio e emergencial e a expectativa pela vacina, no entanto, a questão do impeachment ganhou novo impulso neste início de ano. E a isso se somam as constantes declarações de Bolsonaro interpretadas como crime de responsabilidade.

Já na noite de ano novo, dia 31 de dezembro, muitos trocaram os fogos de artifícios por panelaços e gritos de "fora, Bolsonaro''. No mesmo dia, os dois "jornalões" de São Paulo, Folha e Estadão, publicaram editoriais elencando "erros" do presidente e beiraram um pedido de renúncia por parte do chefe do Executivo.

Ao longo da última semana, desde o primeiro dia do ano, não foram poucas as lideranças políticas de esquerda que resgataram a palavra "impeachment" em seus vocabulários.

"Tenho certeza que esse ano vai ser o ano do impeachment. O governo tem tido atos cada vez mais desastrosos em todos os campos. Desastrosos e criminosos", opina o deputado Rogério Correia (PT-MG), um dos autores de um novo pedido de impeachment anunciado pelo PT que será procolocado nos próximos dias.

A nova peça alega alega que o presidente cometeu crime de apologia à tortura ao ironizar e duvidar que a ex-presidenta Dilma Rousseff, que ficou presa durante três anos durante a ditadura militar, tenha sido torturada.

"O Maia se manifestou contra esse palavreado do Bolsonaro contra a democracia. Baleia Rossi (MDB-SP) [candidato de Maia à sucessão da presidência da Câmara] a mesma coisa. Espero que seja sincero, porque se for sincero a consequência que o Congresso Nacional pode tomar é o processo de impeachment. O que mais pode se fazer diante de mais uma ameaça dele, de enaltecer crimes de tortura e fazer apologia à ditadura?", indaga o petista, citando ainda o fato de Bolsonaro ter explicitado seu desejo de tentar um golpe em 2022 caso não saia vitorioso, a exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos.

"Isso não pode ser escondido mais. O presidente [da Câmara] que não abre processo de impeachment diante de crimes claros, ele não merece ser presidente da Câmara", completa Correia.

Esse impulso na tese do impeachment também é compartilhado pelo deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA). "É um movimento que expressa a indignação crescente do povo brasileiro com os desatinos, absurdos do presidente da República que comete, de maneira recorrente, crimes de responsabilidade. Nós temos, sim, que pautar esse assunto, colocar como tema central da oposição esse ano", declara o comunista.

"É uma questão de saúde pública para o Brasil em face da pandemia e uma questão essencial para se preservar a democracia em nosso país. É pelo Brasil, pela democracia, impeachment já", completa.

E, de fato, há sinais de que a "movimentação" pelo impeachment citada por Jerry de fato esteja ganhando musculatura. Além de PT e PCdoB, lideranças do PDT e do PSOL também voltaram a pregar o afastamento de Bolsonaro nos últimos dias.

"O Brasil chega à infeliz marca de 200 mil vidas perdidas pelo coronavírus. São milhares de histórias, sonhos interrompidos não só pela pandemia, mas pela negligência de um governo genocida. Me solidarizo com as famílias e amigos. Os 'erros' que levaram a essas mortes são imperdoáveis. É urgente a vacinação para todos e o impeachment de Bolsonaro", afirmou nesta quinta-feira (7) Sâmia Bonfim, líder do PSOL na Câmara dos Deputados.

Maior liderança do PDT e virtual candidato em 2022, Ciro Gomes também fez coro. Ainda nos últimos dias de dezembro, o ex-ministro fez uma lista de supostos crimes cometidos pelo presidente ao pedir seu impeachment. "IMPEACHMENT JÁ! Bolsonaro precisa ser punido pelos crimes de responsabilidade quem vem cometendo dia sim e dia também", tuitou no dia 14 de dezembro.

Já nesta quinta-feira (7), citou a tentativa de golpe encampa da por Trump nos EUA para reforçar sua defesa do afastamento de Bolsonaro. "Trump é um mau exemplo para o mundo e coloca não só os EUA em risco, mas todos os países democráticos. Temos que nos manter vigilantes. Bolsonaro é aprendiz e capacho de Trump. É hora do Congresso brasileiro colocar um freio em seus crimes e abrir o processo de impeachment", escreveu o pedetista.

O tema também deve se tornar central este ano na Ordem dos Advogados do brasil (OAB). Felipe Santa Cruz, presidente da entidade, informou esta semana vai pautar o impeachment de Bolsonaro no Conselho Federal do órgão, integrado por 81 pessoas.

"Parece que os projetos políticos do presidente se aproximam perigosamente da construção de um quadro de ruptura. Assim, vou dar andamento ao debate sobre o impedimento do senhor presidente por crimes de responsabilidade, em especial durante a pandemia", pontuou Santa Cruz.

Ainda que seja precoce prever se haverá um cenário que motive o futuro presidente da Câmara a abrir um dos processos contra Bolsonaro, parte da população, em sintonia com os parlamentares de esquerda, já tem trabalhado para criar o chamado "clima político" que possibilitaria o impedimento.

Nesta sexta-feira (8), de forma silenciosa, foi realizado um ato em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, em memória dos mais de 200 mil brasileiros que perderam a vida para Covid-19. Com cartazes de "impeachment já", os manifestantes sentenciaram: "A culpa é sua, Bolsonaro".