Mendonça já recua: “A Bíblia no Supremo é a Constituição”

Declaração, dada a colunista do UOL, é sinal de que indicado por Bolsonaro ao STF deve abandonar, por ora, o discurso religioso. Há forte resistência ao seu nome no Senado, que tem que aprovar escolha

André Mendonça e Jair Bolsonaro (Divulgação/PR)
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O advogado-geral da União, André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, disse hoje à colunista Carolina Brígido, do portal UOL, que “A Bíblia no Supremo é a Constituição”.

A declaração surge depois de Bolsonaro ter indicado Mendonça por ele ser “terrivelmente evangélico”, conforme prometeu o chefe do Executivo federal no ano passado, depois da indicação de Kássio Nunes Marques para outra vaga, numa clara sinalização à sua base eleitoral de orientação religiosa fundamentalista.

Ao que tudo indica, Mendonça pretende mudar a imagem de radical evangélico construída durante o governo Bolsonaro, que sempre exalta o fato de seu escolhido ser pastor, conservador e guiado por uma visão jurídica que mescla leis com preceitos cristãos.

As informações que vêm do STF dão conta de que os ministros da Corte Constitucional viram com bons olhos a escolha do nome de Mendonça pelo presidente. Ele seria querido e bem relacionado com os demais membros do Supremo. No entanto, a confirmação para o cargo não deve ser fácil.

Todos os indicados pelos presidentes para assumiram uma vaga na mais alta instância do Judiciário brasileiro precisam passar por uma sabatina no Senado e ter seu nome aprovado pelos parlamentares. No caso do atual advogado-geral da União, há muita resistência à confirmação.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, onde primeiro será analisada a indicação, Mendonça até tem maioria, mas no plenário da câmara alta do parlamento federal a tendência é contrária a seu nome. Os motivos são muitos, desde o confronto aberto entre governo e Senado, por conta da CPI do Genocídio, passando pelos vínculos ideológicos radicais compartilhados pelo indicado e o presidente Bolsonaro, além do fato dele ser visto como uma figura sem autonomia política e como radical religioso.

André Mendonça, se tudo correr dentro do calendário, deve ser sabatinado no Senado em agosto. Enquanto isso, o homem a quem Bolsonaro delegou o papel de levar seu extremismo ao Supremo agenda conversas com senadores para tentar convencê-los a aprovar seu nome, agora moderando seu discurso fundamentalista.