Bolsonaro vai mandar Mourão para a posse de Boric no Chile

Saudosista da ditadura de Pinochet, o presidente Jair Bolsonaro já havia sinalizado que não iria participar da posse de Boric

Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Depois de demorar quatro dias para saudar a vitória de Gabriel Boric nas eleições presidenciais do Chile, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu que quem irá representar o Brasil na posse do mandatário do país vizinho será o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Não é a primeira vez que Bolsonaro manda o vice para participar de compromissos internacionais em que ele não quer estar presente.

Saudosista do ex-ditador Augusto Pinochet, Bolsonaro não escondeu o descontentamento com a vitória de Boric sobre o ultradireitista José Antonio Kast. Quatro dias depois do triunfo do candidato da Frente Ampla, Bolsonaro disse que pediu para o Itamaraty  parabenizar “o tal Boric”.

O presidente eleito chileno rebateu a declaração com elegância: “Não farei declarações destemperadas. Creio que em políticas de Estado é preciso ser um pouco mais cuidadoso. Claramente somos muito diferentes”.

Em entrevista ao portal direitista Gazeta Brasil, Bolsonaro já havia dito que não iria à posse. Para evitar a participação, o presidente brasileiro voltou a recorrer a Mourão como "tapa-buraco".

Mourão já foi incumbido de participar da posse de Alberto Fernández, na Argentina, e Pedro Castillo, no Peru. Bolsonaro só foi se encontrar com Castillo na quinta-feira, durante uma reunião realizada em Porto Velho (RO).

O governo Gabriel Boric

“A esperança venceu o medo”, disse Gabriel Boric em discurso feito logo após ser eleito presidente do Chile, no domingo (19). Boric conseguiu vencer o ultradireitista José Antonio Kast, o “Bolsonaro chileno”, com a maior votação já conquistada por um presidente na história do país, 4,6 milhões de votos, e a segunda maior margem percentual desde a redemocratização.

O contundente resultado das urnas não diminui as dificuldades que o presidente eleito terá de enfrentar em um país que vive uma tensa crise social provocada pelo desgaste do modelo neoliberal imposto na ditadura de Augusto Pinochet. Entre os principais desafios estão o enfrentamento das consequência da pandemia de Covid-19, a crise no sistema de aposentadorias, o desemprego de mais de 8% (que ultrapassou os 10 dígitos em 2020) e, é claro, a reforma da Constituição que tem sido conduzida por uma Assembleia Constituinte.

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O plano econômico de Gabriel Boric e da Frente Ampla trabalha com alguns eixos centrais: taxação das grandes fortunas, a criação de um Banco Nacional de Desenvolvimento, redução da jornada de trabalho, o fim das empresas privadas de saúde e criação de um Sistema Único de Saúde.

O gabinete ministerial anunciado por Boric em janeiro terá ampla maioria feminina: serão 14 mulheres e 10 homens. A média de idade é de 49 anos, e oito dos 24 nomes são independentes, sem vínculo com partidos políticos. A ministra da Defesa será Maya Fernandez Allende, neta de Salvador Allende, cujo governo foi derrubado pelo golpe de Estado articulado pelo Exército chileno e colocou o ditador Augusto Pinochet no poder.