TELEGRAM

Don't cry: Constantino choraminga em inglês contra bloqueio do Telegram e vira piada nas redes

Versão do bolsonarista contraria a do dono do Telegram, que admite que houve negligência com a justiça brasileira

Rodrigo Constantino durante participação no Pânico, na Jovem Pan.Créditos: Reprodução/Jovem Pan
Escrito en MÍDIA el

O comunicador bolsonarista Rodrigo Constantino usou as redes sociais nesta sexta-feira (18) para se rebelar contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de bloquear o aplicativo de mensagens Telegram no Brasil por solicitação da Polícia Federal (PF). Para Constantino, a decisão judicial seria a representação de uma ditadura, ainda que o próprio dono do Telegram tenha admitido que a suspensão aconteceu por um negligência da plataforma em atendeu ao tribunal.

"Olá, sou um jornalista brasileiro que mora nos EUA, e só quero que o mundo saiba que o Brasil está sob uma ditadura agora, não pelo nosso presidente, mas pelo Supremo Tribunal Federal. As redes sociais estão sob censura para atacar a campanha eleitoral do presidente. Não há estado de direito lá", escreveu no Twitter, em inglês.

Constantino ainda marcou veículos de comunicação dos Estados Unidos, como CNN e Fox News, e políticos do Partido Republicano, como o deputado Donald Trump Jr, filho do ex-presidente dos EUA.

Além da alegação esdrúxula de que o Brasil viveria uma ditadura do Judiciário, o fato de a mensagem ter sido escrita em inglês foi alvo de muitas piadas nas redes sociais

STF bloqueia Telegram

O ministro Alexandre Moraes, do STF, determinou o bloqueio da operação do aplicativo Telegram em todo o Brasil em razão de descumprimento de ação judicial. A rede social permitiu que o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, notório disseminador de fake news, voltasse a operar na plataforma. A suspensão foi solicitada pela Polícia Federal em razão da falta de cooperação da empresa com as autoridades.

“A suspensão completa e integral do funcionamento do TELEGRAM no Brasil permanecerá até o efetivo cumprimento das decisões judiciais anteriormente emanadas, inclusive com o pagamento das multas diárias fixadas e com a indicação, em juízo, da representação oficial no Brasil (pessoa física ou jurídica)”, decidiu o magistrado.

Telegram tem que seguir regras, diz especialista

A jornalista e pesquisadora Renata Mielli, secretária-geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e integrante da Coalizão Direitos da Rede, disse à Fórum que a decisão de Moraes não surpreende devido ao histórico do aplicativo, que frequentemente desrespeita o que prevê a legislação brasileira. 

"Há algum tempo as autoridades nacionais tentam fazer com que o Telegram coopere com o Poder Judiciário, principalmente no enfrentamento à desinformação. O Telegram nunca respondeu às várias tentativas de contato que as autoridades fizeram", apontou. "Nenhuma empresa que atua no Brasil pode atuar à revelia da legislação nacional e se negar a cooperar com as autoridades brasileiras. Essa é postura do Telegram, tanto no Brasil como no mundo", afirmou Mielli.

"Uma empresa que oferta um serviço de mensagens para mais de 60 milhões de brasileiros, que tem um impacto importante no debate público, que influencia na disseminação de conteúdos com impactos políticos, eleitorais e sociais, não pode se negar a cooperar com as autoridades. A decisão do ministro é grave, severa, mas demonstra que o Brasil não está disposto a ser visto como um país aonde não é necessário seguir regras. Se uma empresa precisa seguir regras, elas precisam ser seguidas por todas", defendeu.

"Telegram é barbárie completa", diz pesquisador

O pesquisador Felipe Pena, professor de Comunicação da UFF e coordenador de uma pesquisa sobre fake news na universidade, defendeu a suspensão do aplicativo Telegram no Brasil durante participação recente no Jornal da Fórum. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já cogitava a suspensão da rede após não conseguir contato com os responsáveis da plataforma, que não possui sede no Brasil. 

O grupo de pesquisa de teoria do jornalismo da Intercom/UFF, no qual Pena coordena, analisa 100 grupos bolsonaristas de Telegram e de WhatsApp (80x20). O objetivo é mapear as notícias falsas que são elaboradas nesse ambiente sem controle e identificar a percepção das pessoas diante das narrativas mirabolantes gestadas pela base de apoio do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo Pena, há uma migração do WhatsApp pro Telegram, em razão do controle que a rede social estadunidense tem imposto. "O grande problema do Telegram é que não tem escritório no Brasil, é uma terra sem lei mesmo", explicou Pena no Jornal da Fórum. "Eu sou favorável sim à suspensão. Não tem escritório no Brasil para responder? Tem que fechar. Senão vira terra sem lei. O Telegram é uma barbárie completa. As pré-conclusões nas nossas pesquisas são as piores possíveis", completou.