PAUL MCCARTNEY 80 ANOS

Paul McCartney, a alegria e a melancolia dos 80 anos do maior compositor pop do planeta

Adoraria que aparecesse algum compositor nos dias de hoje com canções como “Hey Jude”, “The Long and Winding Road” ou “Yesterday”, mas não há

Paul McCartney.Créditos: Montagem/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

A surpreendente comemoração dos oitenta anos do ex-Beatle Paul McCartney nos joga – a mim ao menos – entre a melancolia e a alegria de se deparar com a longevidade da obra de um dos maiores artistas do século XX.

Por um lado, ficamos nós a lembrar como Paul era jovem e, sobretudo, representava um signo jovem. A capacidade de renovação da obra dos Beatles, bem como tudo o que a cerca: roupas multicoloridas, cabelos longos “assanhados com jeito”, as capas dos álbuns, fotos, os arranjos, a psicodelia e a música.

A maravilhosa música de Paul e sua banda, e depois dele em carreira solo, muitas vezes ainda genial e em outras nem tanto.

Paul e os Beatles estavam mais para a geração de meus pais, mas me tomaram de assalto tempos depois da banda terminar, em 1970. Tomaram de assalto também a vida de minhas filhas e devem seguir por aí afora, com os netos e bisnetos adiante.

Tenho a sensação vívida que Paul era mais moderno do que tudo que veio a aparecer como moderno depois dele. Quando ele deixou de ser Beatle eu tinha apenas nove anos. Os Beatles não foram algo exatamente do “meu tempo”, como dizem. Mas foram, irremediavelmente.

Assisti McCartney duas vezes. A primeira em 1993, no Pacaembu, ainda ao lado da sua então esposa Linda McCartney. Uma indescritível profusão de sentimentos de estar diante de tamanha obra e, como se não bastasse, interpretada com uma competência indizível, qualidade sonora impecável e tudo o mais. Um espetáculo, enfim, que corroborava em tudo para consolidar aquela que foi a grande trilha sonora de nossas vidas.

A outra vez foi sete anos depois, no Morumbi. Os dois shows muito parecidos em tudo, tanto na competência quanto na obra, os gestos, salvo algumas canções novas aqui e acolá. Esta apresentação foi aquela em que, no final, o cantor já com quase 70 anos, levou um tombo e se levantou rápido feito um moleque.

O tempo passou. E passou rápido. Sobrevivente da pandemia e de um tempo mau que nos assolou nos últimos anos, o artista ressurge com 80 anos pronto pra rodar o planeta com sua banda mais uma vez. Apesar da alegria incontida, de toda a celebração, não dá pra deixar escapar a melancólica estranheza de que o melhor ficou pra trás. O melhor passou e vivemos de lembranças.

Óbvio que há um pouco aí da velha e boa conversa de velho. Aquela que diz que música boa se fazia no “meu tempo”. Há e não há ao mesmo tempo. Tivemos na canção pop inúmeros músicos talentosos, álbuns lindos, cantoras e cantores maravilhosos. Como bem dizia Belchior, “o novo sempre vem”.

Ao mesmo tempo e por outro lado, adoraria que alguém me mostrasse algum compositor por aí nos dias de hoje com canções como “Hey Jude”, “The Long and Winding Road” ou “Yesterday”.

Definitivamente não há. O que o futuro nos reserva ninguém sabe. Muito provavelmente surgirão outros gênios e a vida seguirá. Mas este, do “nosso tempo”, ou seja, do tempo em que habitamos o planeta, será sempre Paul McCartney.