"Meu universo vai além do cercadinho", reage Barroso após ser xingado por Bolsonaro

Ministro ainda falou sobre países que vivem "mentirocracia" no mesmo dia em que foi xingado de "filho da puta" pelo presidente

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O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, reagiu de forma moderada ao novo ataque promovido contra ele pelo presidente Jair Bolsonaro.

Durante passagem por Santa Catarina, a apoiadores, na tarde desta sexta-feira (6), o chefe do Executivo chamou o magistrado de "filho da puta".

“Eu gosto de repetir que sou um ator institucional. Eu não sou um ator político. Eu não tenho interesse nem cultivo polêmicas pessoais. A conquista e a preservação da democracia foram as grandes causas da minha geração. E é a isso que eu dedico a minha vida pública. Eu não paro para bater boca, não me distraio com miudezas. Meu universo vai bem além do cercadinho", disse Barroso ao ser questionado por jornalistas sobre o novo ataque de Bolsonaro, durante evento governabilidade e democracia no Insper, em São Paulo.

Além de Barroso, estavam presentes no mesmo evento os também ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.

Sem citar diretamente o Brasil e Bolsonaro, Barroso falou ainda sobre países que viveriam uma "mentirocracia".

"Em alguns países se criou também a mentirocracia, que é a difusão da inverdade e das narrativas falsas como método de governo e estratégia de manipulação das massas. Criam-se milícias de fanáticos e de mercenários que vivem de disseminar ódio, a desinformação e teorias conspiratórias com o propósito de enfraquecer as instituições", declarou.

Novo ataque de Bolsonaro

Alvo de inquéritos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro não só insiste com ataques aos ministros das cortes, como resolveu nesta sexta-feira (6) descer ainda mais o nível.

Durante passagem por Santa Catarina, aglomerado com apoiadores, o chefe do Executivo disparou: “Aquele filho da puta do Barroso” – em referência ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE.

Assista ao momento aqui.

Ataques e reações dos tribunais

Jair Bolsonaro vem ‘esticando a corda’ em seus ataques às instituições, ministros dos tribunais e ao sistema eleitoral brasileiro.

Com medo de perder as próximas eleições, o presidente insiste na tese de que as urnas eletrônicas não são seguras e que o processo eleitoral é fraudulento. Nesta narrativa, desfere ataques e ofensas, especialmente, ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news que tem Bolsonaro como um dos alvos, e também ao ministro Barroso, que é presidente do TSE.

Em reação, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, subiu o tom contra o presidente. Durante a sessão do Supremo desta quinta-feira (5), o magistrado anunciou o cancelamento de reunião que aconteceria entre os chefes dos Três Poderes brasileiros (Executivo, Legislativo e Judiciário).

“Como presidente do STF, alertei o presidente da República em reunião realizada nesta Corte, durante as férias coletivas, sobre os limites do exercício do direito da liberdade de expressão, bem como ser necessário e inegociável o respeito entre poderes para harmonia do pais”, afirmou Fux no início de seu discurso.

“Contudo, como tem noticiado a imprensa, nos últimos dias o presidente da República tem reiterado ofensas, ataques e inverdades contra integrantes desta Corte. Quando se atinge um dos integrantes, se atinge a Corte por inteiro. Além disso, sua Excelência mantem interpretações equivocadas de decisões e insiste em colocar em suspeição a rigidez do sistema eleitoral”, prosseguiu o ministro, pouco antes de anunciar o cancelamento da reunião e mandar recado para Bolsonaro.

“Diante disso, informo que está cancelada a reunião outrora anunciada entre os chefes dos Poderes. O pressuposto do dialogo entre os Poderes é o respeito mútuo entre instituições e seus integrantes. Diálogo eficiente pressupõe compromisso permanente com as próprias palavras, o que infelizmente não temos visto no cenário atual”, disparou.

Inquéritos

O ministro Alexandre de Moraes, na última quarta-feira (4), atendeu a um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e decidiu incluir o presidente Jair Bolsonaro no inquérito das fake news, que está em vigor desde 2019.

O motivo são os ataques constantes e as mentiras divulgadas pelo chefe do Executivo sobre o sistema eleitoral brasileiro. Na semana passada, Bolsonaro promoveu uma live contra as urnas eletrônicas sem apresentar prova alguma com o único objetivo de espalhar boatos e difamar a Justiça Eleitoral.

Os ministros do TSE, por unanimidade, então, decidiram acionar o STF para incluir a live no inquérito das fake news, relatado por Moraes.

Agora Bolsonaro passará a ser investigado no âmbito criminal pela Corte e, após a conclusão da apuração, o presidente pode se tornar inelegível.

Além de pedir ao STF para incluir Bolsonaro no inquérito das fake news, o TSE decidiu, também por conta da live de Bolsonaro contra as urnas, abrir uma investigação própria contra o presidente.

O plenário do TSE atendeu a um pedido do corregedor-geral do TSE, Luis Felipe Salomão, e determinou a abertura de um inquérito administrativo para “apurar fatos que possam configurar abuso do poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos, propaganda extemporânea, relativamente aos ataques ao sistema eletrônico de votação e à legitimidade das Eleições de 2022”.

Em 21 de julho, Salomão deu prazo para Bolsonaro apresentar provas das suas alegações até esta segunda-feira – o que não foi feito. “Considerando o teor das manifestações que sugerem haver inconformidades no processo eleitoral, oficie-se às autoridades que as tenham produzido para que apresentem, no prazo de 15 dias, evidências ou informações de que disponham, relativas à ocorrência de eventuais fraudes ou inconformidades em eleições anteriores”, dizia o ofício.