Tentando abocanhar parte do massivo eleitorado de Lula (PT) no Nordeste, o presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve nesta quarta-feira (9) em um evento de inauguração de um trecho da transposição do Rio São Francisco, em Jardim Piranhas, no Rio Grande do Norte. Ao chegar na cidade para inaugurar uma obra que já estava 96% concluída antes de assumir o governo, o chefe do Executivo participou de uma "jegueata", passeio com jegues e cavalos, e ouviu gritos de apoio ao seu principal adversário político.
"É Lula!", gritavam alguns dos presentes enquanto Bolsonaro e ministros passavam pelas ruas do município potiguar montados em cavalos e jegues, sob um forte aparato de segurança. Pouco antes, uma mulher que estava próxima de quem filmou a cena disse: "E tome vaia".
Acompanharam Bolsonaro na "jegueata" os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Fábio Faria (Comunicações), João Roma (Cidadania), Gilson Machado (Turismo) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral).
Assista à cena
Situação parecida aconteceu recentemente na Grande SP, quando Bolsonaro desfilou em carro aberto em meio à tragédia das chuvas e ouviu gritos de apoio a Lula de alguns dos presentes. Confira aqui.
Campanha antecipada no RN
O ex-senador Magno Malta acompanhou Jair Bolsonaro (PL), nesta quarta-feira (9), durante passagem do presidente pela cidade Jardim de Piranhas, no Rio Grande do Norte, em evento oficial promovido pelo governo em alusão à obra de transposição do Rio São Francisco. Durante a cerimônia, Malta pediu votos a Bolsonaro.
“Nós precisamos reconduzir esse homem ao poder, à reeleição! Depois dele, outro conservador e depois outro conservador Porque… Quem quer se tornar Venezuela e Argentina levante a mão. Quem quer ficar debaixo de um regime chinês levante a mão”, disparou o ex-parlamentar, ao lado de Bolsonaro, que sorriu em meio à fala de teor eleitoreiro e os aplausos da plateia. A cena, bem como toda a cerimônia, foi transmitida ao vivo pela TV Brasil, uma emissora pública.
A fala de Magno Malta, que se tratou na prática de um pedido de votos a Bolsonaro, ocorreu em um evento da presidência, pago com recursos públicos. Na segunda-feira (7), inclusive, o presidente avisou que gastaria “uns R$ 300 mil no cartão corporativo” para bancar a viagem oficial ao Nordeste.
Segundo o advogado Renato Ribeiro de Almeida, professor de direito eleitoral e coordenador acadêmico da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), o evento de Bolsonaro com pedido de votos feito por Magno Malta configura abuso de poder político e campanha eleitoral antecipada.
“Trata-se de uma conduta vedada aos agentes públicos e pode ser considerado o que nós chamamos no direito eleitoral de abuso de poder político, quando alguém se vale dos recursos estatais, eventos estatais, tudo aquilo que o pode público disponibiliza ao mandatário, para fins eleitorais. São fins que ultrapassam a mera propagação de atos do governo e passam a ser palanque político”, disse Almeida à Fórum.
Pelas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha eleitoral só pode começar a ser efetuada pelos candidatos a partir de agosto.