Gesto supremacista: MPF denuncia Filipe Martins, assessor especial de Bolsonaro, por racismo

Procuradoria rechaçou argumento de Martins de que ele teria "ajeitado a lapela do terno" e afirmou que ele agiu de forma intencional em referência a movimento extremista; assessor pode ser preso e perder o cargo

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O Ministério Público Federal (MPF) do Distrito Federal denunciou, nesta quarta-feira (9), o assessor especial de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, pelo crime de racismo. O motivo é o fato do olavista, durante audiência no Senado em 24 de março, ter feito para as câmeras um gesto em referência ao movimento supremacista branco dos Estados Unidos - uma corrente racista da extrema-direita.

Martins chegou a ser investigado e interrogado pela Polícia do Senado e, em depoimento, ele negou que tenha feito gesto racista, mas que estava apenas "ajeitando o terno".

A  Procuradoria da República no Distrito Federal, no entanto, analisou as imagens do dia em que o gesto foi feito e rechaçou o argumento de que estaria ajeitando o paletó. "Após ser repreendido, FILIPE MARTINS alegou que estava apenas ajeitando seu terno. No entanto, as imagens de vídeo captadas durante a sessão e analisadas detidamente no inquérito policial revelam que o gesto do denunciado foi realizado de forma completamente inusual e antinatural, e deixam evidente que não teve o intuito de ajustar a roupa", diz um trecho da denúncia, que foi enviada à 12ª Vara Federal do DF.

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Se a Justiça aceitar a denúncia, Martins vira réu e pode ser condenado à prisão, além de ter que pagar multa mínima de R$30 mil e correr o risco de perder o cargo.

Segundo o MPF, o assessor agiu "com vontade livre e consciente, praticou, induziu e incitou a discriminação e o preconceito de raça, cor e etnia, em detrimento da população negra em geral e contra outros grupos sociais não brancos, como pardos, asiáticos e indígenas, mediante a realização de gesto apropriado por movimentos extremistas com simbologia ligada à ideia de supremacia branca".

Os procuradores, ao oferecem a denúncia, também citaram que, para além do gesto supremacista no Senado, Martins recorrentemente faz referência ao movimento extremista em postagens nas redes sociais. “Não é verossímil nem casual que tantos símbolos ligados a grupos extremistas tenham sido empregados de forma ingênua pelo denunciado, ao longo de vários meses em que ocupa posição de poder na estrutura da administração pública federal, nem que sua associação a grupos e ideias extremistas tenha sido coincidência em tantas ocasiões", dizem.

Entenda

No dia 24 de março, durante audiência no Senado, Filipe Martins fez com as mãos um gesto que parece remeter ao símbolo “WP”, em referência a lema “white power” (“supremacia branca”). Esse gesto, que se assemelha a um “OK”, é classificado desde 2019 como “uma verdadeira expressão da supremacia branca” pela Liga Antidifamação dos EUA, segundo reportagem da BBC.

“Ele fez um sinal de supremacia branca enquanto arruma o terno. É muito difícil ele dizer que não sabe o que está fazendo. É um sinal de supremacia branca. É um sinal que é usado como senha em diversos grupos, como o Proud Boys”, disse à Fórum a antropóloga Adriana Dias, que é doutora em antropologia social pela Unicamp, pesquisa o fenômeno do nazismo e atua como colunista.

Após a repercussão do gesto, Martins negou que tenha feito referência ao supremacismo, dizendo que estava “ajeitando a lapela o terno”.