PP e Bolsonaro: um caso de amor nos intestinos do fisiologismo político

Todo mundo já notou. Jair saiu do PP (duas vezes), mas o PP não saiu de Jair. É a sina do presidente que agora terá que nomear um senador da legenda para a Casa Civil, em troca de apoio do partido “camaleão”

Foto: Presidência da República (edição de imagens)
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Não é segredo pra ninguém a infidelidade partidária contumaz de Jair Bolsonaro. O presidente já foi filiado ao PDC (1990-93), PPR (1993-95), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP (2005-16), PSC (2016-17) e ao PSL (2018-19).

Se observarmos bem, o PPB e PP, duas siglas às quais Bolsonaro já foi filiado, na verdade representam a mesma, apenas mudando de nome, e que atualmente se chama “Progressistas”. É o partido do atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, eleito pelo estado de Alagoas.

A legenda que já mudou de nome duas vezes volta à baila esta semana por conta da alta fatura que vem cobrando do Executivo federal para manter seu apoio. Peça fulcral do chamado centrão, além de ocupar boas frações da administração Bolsonaro, agora está no cerne de uma pequena reforma ministerial que ocorrerá na próxima segunda-feira (26) e que conduzirá o senador piauiense Ciro Nogueira à joia da coroa: a Casa Civil da Presidência da República.

Mas o PPB, ou PP, ou ainda Progressistas, também abriga, ou abrigou, outras figuras relevantes da política nacional, embora boa parte delas possa não despertar tanto orgulho assim no partido. É o caso de Paulo Maluf, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo que se tornou uma espécie de ex-libris da corrupção nacional, que pariu para os anais do senso comum o adágio popular ignominioso “rouba, mas faz”. Assim como Ivo Cassol, ex-senador e ex-governador de Rondônia condenado no Supremo Tribunal Federal por fraude em licitação pública e investigado pela Polícia Civil do DF por envolvimento numa rede de prostituição.

E como esquecer do caricato Severino Cavalcanti, já falecido, presidente acidental da Câmara dos Deputados por sete meses, em 2005, investigado por nepotismo e apontado como um dos artífices do chamado escândalo do Mensalinho? Também não se pode deixar de mencionar que o PP é um dos partidos com mais casos de corrupção segundo as estatísticas do TSE, computadas desde o ano 2000.

No entanto, o que faz o nome do partido vir à cabeça nos dias de hoje é o deputado federal paranaense Ricardo Barros, considerado um senhor feudal no Ministério da Saúde, aquele que manda nomear e demitir na pasta, líder do governo Bolsonaro na Câmara, e que agora é conhecido no país inteiro como o pivô do escândalo Covaxin, que pretendia comprar de forma ilegal e superfaturada um carregamento de 400 milhões de doses de uma vacina indiana diretamente das mãos de um cabo da PM de Alfenas.

Jair Bolsonaro já saiu duas vezes do PP, mas é muito evidente que o PP não sai de Jair Bolsonaro. A relação do ex-deputado extremista e descompensado que se tornou presidente e uma das organizações políticas mais fisiológicas da História do Brasil é como uma romance meloso com idas e vindas, mas sem muito afastamento.

Sem partido desde 2019, o presidente já não considera mais sua entrada no Patriota, que rejeitou abrigá-lo. Seria agora o momento do radical isolado cantar, como Cássia Eller, “estamos indo, de volta pra casa...”?

O PP e Jair certamente já sentiram o clima.